Ao menos 35 detentas teriam morrido de fome em presídios norte-coreanos

Alimentação das pressas depende bastante de entregas feitas por parentes, cujas visitas foram limitadas na pandemia

Dois presídios femininos da Coreia do Norte teriam registrado ao menos 35 mortes de detentas em função da desnutrição no mês de julho, segundo duas testemunhas que conversaram com a rede Radio Free Asia. As mortes estão ligadas à redução das visitas em função da pandemia de Covid-19, o que impediu que muitas presas tivessem acesso aos alimentos levados por parentes e amigos.

Embora o governo norte-coreano ofereça comida à população carcerária, a quantidade é reduzida e não oferece os valores nutritivos necessários. Dessa forma, presos e presas dependem de parentes e amigos que levam comida, sobretudo farinha de milho. E, embora as visitas não tenham sido totalmente suspensas, elas foram limitadas a uma a cada três meses.

Vista de Pyongyang, capital da Coreia do Norte (Foto: Clay Gilliland/Wikimedia Commons)

A situação é ainda mais delicada porque a população carcerária norte-coreana é submetida a trabalho forçado por longos períodos.

“Na semana passada, visitei minha irmã na prisão de Kaechon, e ela me disse que 20 prisioneiras morreram de desnutrição e trabalho duro”, disse uma cidadã da província de Hamgyong do Norte, no nordeste do país, pedindo para não ter a identidade revelada.

Segundo ela, casos assim são corriqueiros, mas habitualmente morrem entre três e quatro detentas por mês. A Covid-19 teria levado a uma explosão de casos. “Os prisioneiros não podem suportar o trabalho intenso depois de comer apenas uma única bola de arroz por dia”, afirmou.

A mulher diz que o problema persiste, com “cerca de 50 prisioneiras diagnosticadas com desnutrição no presídio feminino”. As presas teriam sido isoladas das demais, vez que não podem sequer ficar sentadas. “Parece que estão esperando para morrer”, disse a fonte.

Outros casos foram registrados na prisão de Chungsan, em circunstâncias idênticas. “As presas com familiares e conhecidas que trazem comida de fora dificilmente sobreviverão à prisão. Mas as presas sem comida de fora morrem de desnutrição”, afirmou um homem que também solicitou anonimato.

A Covid na Coreia do Norte

O surto de Covid-19 na Coreia do Norte, que gerou a redução das visitas aos presídios, ocorreu em maio. Na ocasião, a OMS (Organização Mundial da Saúde) chegou a manifestar preocupação, destacando que nenhum programa público de vacinação havia sido implementado no país. A agência, então, apoiou o desenvolvimento de uma estratégia nacional de preparação e resposta à doença, vacinação inclusa.

No mês seguinte uma análise dos dados alfandegários da China, feita pelo jornal South China Morning Post, mostrou que o governo pode ter previsto o problema. Isso porque desde janeiro Pyongyang havia aumentado consideravelmente a importação de itens de combate à doença, como máscaras de proteção e respiradores mecânicos.

Já no início de agosto, o país declarou ter vencido a doença, com a alegação do governo de que não havia mais nenhum caso registrado. Entretanto, há relatos de cidadãos de que casos suspeitos continuam a surgir, com pessoas sendo totalmente isoladas em caso de febre.

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