Após incidente com cargueiro no Mar Negro, Turquia faz advertência à Rússia

Segunda maior força militar da Otan, Ancara abandona neutralidade e diz que ações agressivas russas 'aumentam as tensões'

O governo da Turquia lançou uma advertência à Rússia e instou o país a adotar maior cautela para evitar uma perigosa escalada no Mar Negro, dias após um cargueiro de propriedade turca ter sido interceptado agressivamente por uma embarcação militar russa na região. As informações são do jornal Daily Sabah.

“Após a intervenção (russa), nossos interlocutores na Federação Russa foram avisados ​​adequadamente para evitar tais tentativas, que aumentam as tensões no Mar Negro”, diz comunicado divulgado pelo serviço de comunicação da presidência turca.

Segundo informações divulgadas pelo Ministério da Defesa da Rússia, o cargueiro Sukru Okan, com bandeira de Palau, foi interceptado pela marinha russa e não respondeu a um pedido de parada para inspeção. Diante da negativa, um helicóptero com militares foi lançado do navio patrulha Vasily Bykov para inspecionar a embarcação de carga.

Navio patrulha Vasily Bykov fez os disparos (Foto: WikiCommons)

Após o envio de comunicação por rádio, o cargueiro interrompeu sua rota e foi invadido por uma equipe de abordagem, que chegou a fazer disparos de advertência. Embora o navio estivesse se dirigindo ao porto ucraniano de Izmail, dados de tráfego marítimo indicam que seu destino era o porto romeno de Sulina, que ficas nas proximidades.

O cargueiro é de propriedade de uma empresa turca, o que levou a Anacara a agir. Porém, ele navega com bandeira de Palau, uma pequena nação insular do Pacífico que habitualmente registra grandes embarcações de forma a permitir que naveguem com maior liberdade por águas internacionais.

A ação do governo turco constitui um desdobramento relevante porque a Turquia é a segunda maior força militar da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e até então vinha se mantendo neutra em meio à tensão decorrente da guerra na Ucrânia.

O presidente turco Recep Tayyip Erdogan, que intermediou o Acordo de Grãos, mantém boa relação com o homólogo russo Vladimir Putin. Também por isso, o líder turco postergou ao máximo uma intervenção no caso do Sukru Okan, por isso ouviu críticas no país.

No mesmo comunicado de advertência ao Kremlin, Ancara justificou a inércia inicial. “Mesmo que o proprietário do navio Sukru Okan seja turco, o navio não tem bandeira turca”, diz o comunicado. “No direito internacional, é o ‘Estado de bandeira’ que é mais importante do que o nome do navio ou a personalidade de seu pessoal.”

A ação de Moscou, no entanto, não veio sem aviso. Desde que abandonou o Acordo de Grãos que permitia à Ucrânia exportar as sementes de seus portos no Mar Negro, pacto negociado pela ONU (Organização das Nações Unidas) e pela Turquia, a Rússia alertou que passaria a interceptar navios nas águas da região para verificar se transportam armas para Kiev.

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