As Forças Armadas dos EUA estão dispostas a oferecer escolta militar a navios das Filipinas no Mar da China Meridional, uma forma de enfrentar o constante assédio de embarcações da China. A alegação é do almirante Samuel Paparo, chefe do Comando Indo-Pacífico, com informações da rede CBS News.
Paparo tocou no assunto durante entrevista coletiva ao lado do general Romeo Brawner, que comanda as Forças Armadas filipinas. Se a medida for colocada em prática, poderá gerar um choque direto entre as duas maiores potências militares do mundo, EUA e China.
“Toda opção entre as duas nações soberanas em termos de nossa defesa mútua, escolta de uma embarcação para a outra, é uma opção inteiramente razoável dentro do nosso Tratado de Defesa Mútua, dentro desta aliança estreita entre nós dois”, disse Paparo sobre EUA e Filipinas.
A promessa de apoio norte-americana está atrelada ao pacto firmado entre Washington e Manila em 1951. E surge em meio ao aumento das tensões entre chineses e filipinos, que travam uma disputa territorial que pode escalar para um conflito.
Navios dos dois países asiáticos têm protagonizado incidentes frequentes, o mais recente deles no domingo (25). O governo filipino afirma que um navio de seu Escritório de Pesca e Recursos Aquáticos foi alvo de “manobras agressivas e perigosas” realizadas por “oito forças marítimas chinesas” quando tentava entregar diesel, alimentos e suprimentos médicos a barcos de pesca.
Entretanto, o alvo preferencial da Guarda Costeira chinesa costumam ser as embarcações filipinas de reabastecimento que se destinam às Ilhas Spratly, um arquipélago alvo de disputa entre as duas nações. Manila mantém ali uma base militar improvisada, considerando que a porção de terra está dentro de sua Zona Econômica Exclusiva (ZEE).
A posição filipina consiste de um antigo navio encalhado e ocupado por militares do país, que chama a região de Mar das Filipinas Ocidental. A China, porém, reivindica o território como seu e por isso exige que a embarcação seja removida. Como os pedidos não são atendidos, passou a assediar as missões que levam suprimentos aos militares estacionados ali. A escolta norte-americana garantira o reabastecimento da base.
As Filipinas, entretanto, não deixaram claro se aceitarão a oferta, que precisa ser aprovada pelos dois governos. “A atitude das Forças Armadas das Filipinas, conforme ditada pelas leis filipinas, é que primeiro confiemos em nós mesmos”, disse Brawner. “Vamos tentar todas as opções, todos os caminhos que estão disponíveis para nós, a fim de cumprirmos a missão. Neste caso, o reabastecimento e a rotação de nossas tropas.”
Por que isso importa?
Filipinas e China reivindicam grandes extensões do Mar da China Meridional, que é uma das regiões mais disputadas do mundo. Vietnã, Malásia, Brunei e Taiwan também estão inseridos na disputa pelos ricos recursos naturais da hidrovia.
A China é acusada de avançar sobre a jurisdição territorial dos demais países, construindo ilhas artificiais e plataformas de vigilância e incentivando a saída de navios pesqueiros para além de seus domínios marítimos. O objetivo dessa política é aumentar de forma gradativa a soberania chinesa no Mar da China Meridional.
As medidas, entretanto, desrespeitam uma arbitragem internacional estabelecida em Haia, em 2016, que invalidou as reivindicações de Beijing sobre a hidrovia, pela qual passam anualmente cerca de US$ 3 trilhões em comércio marítimo.
Beijing não reconhece a decisão e desde então, passou a construir ilhas artificiais em posições estratégicas do Mar da China Meridional, a fim de manter presença permanente por lá. Ao menos três dessas construções estão totalmente militarizadas, conforme apontam imagens de satélite.