Imagens mostram novas estruturas erguidas pela China em ilhas militarizadas

Ilhas Spratly, reivindicadas por outros países asiáticos, fortalecem a posição estratégica de Beijing no Mar da China Meridional

Imagens de satélite divulgadas pela Simularity Inc., empresa norte-americana de inteligência geoespacial, mostram que a China está erguendo novas estruturas nos recifes de Subi, parte das Ilhas Spratly, no Mar da China Meridional. Trata-se de um local ocupado pela China desde 1988 e reivindicado também por Filipinas, Taiwan e Vietnã, de acordo com a rede Radio Free Asia.

Em março deste ano, o comandante dos EUA no Indo-Pacífico, almirante John C. Aquilino, já havia dito que três das ilhas artificiais da região estão totalmente militarizadas. Os territórios marítimos estão guarnecidos por sistemas de mísseis antinavio e antiaéreos, equipamentos de laser e interferência e contam com caças da força aérea chinesa, um movimento visto como “ameaça às nações que operam nas proximidades”.

Agora, as novas imagens, que foram registradas no dia 5 de maio, mostram sete novas construções em andamento. Subi abriga uma importante base militar da China, que desde 2013 está empenhada em dragar a área para a construção de ilhas artificiais. De lá para cá, foram criados 3,2 mil acres de novas terras, que garantem a Beijing uma posição estratégica no Mar da China Meridional.

Imagens mostram novas estruturas militares de Beijing no Mar da China Meridional
‘Fiery Cross Reef’ é uma das sete ilhas artificiais da China nas Ilhas Spratly e representa uma presença militar contínua em a região (Foto: WikiCommons)

As imagens recentes mostram obras em andamento nas porções norte e sul do recife, com a presença de caminhões, “uma significativa quantidade de areia” e outros equipamentos e materiais de construção. Entretanto, não é possível precisar a função das construções, sendo possível identificar apenas diversos muros e algumas vagas de estacionamento.

Processo de militarização

Em 2016, uma corte internacional considerou as construções da China na região ilegais. Isso porque, tecnicamente, Subi não é uma ilha. Trata-se de um relevo oceânico que, em condições naturais, fica elevado durante a maré baixa e submerso durante a maré alta. Daí o projeto chinês de erguer as ilhas artificiais.

Subi é a segunda maior estrutura natural das Ilhas Spratly, atrás apenas de Taiping, atualmente ocupada por Taiwan. Quem mais teme a forte presença militar da China por ali são as Filipinas, cujo território fica a apenas 12 milhas náuticas do recife.

De acordo com a Iniciativa Marítima da Ásia (AMTI), parte do think tank norte-americano Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, Subi tem uma série de estruturas militarmente relevantes, como hangares capazes de abrigar 20 aeronaves de combate e campos de pouso e decolagem de três quilômetros. As Filipinas, por sua vez, alegam que a base militar ali instalada possui um heliponto e espaço para 200 soldados.

Em março, Aquilino, usou uma aeronave de reconhecimento da Marinha dos EUA e voou perto de postos avançados controlados por chineses nas Spratly. Durante a patrulha, o avião foi avisado diversas vezes por forças chinesas de que havia entrado ilegalmente no que elas alegaram ser território chinês. Foram dadas ordens para que o avião se afastasse.

“A China tem soberania sobre as ilhas Spratly, bem como sobre as áreas marítimas circundantes. Fique longe imediatamente para evitar erros de julgamento”, disse uma das mensagens de rádio, em tom ríspido de ameaça.

De acordo com o almirante, qualquer avião militar e civil que sobrevoe a hidrovia disputada se torna um alvo fácil do sistema de mísseis das ilhas chinesas. “Então, essa é a ameaça que existe, por isso é tão preocupante a militarização dessas ilhas”, disse ele. “Eles ameaçam todas as nações que operam nas proximidades e todo o mar e espaço aéreo internacional”.

Por que isso importa?

Na última década, o Mar da China Meridional tem sido palco de inúmeras disputas territoriais entre a China e outros reclamantes do Sudeste Asiático, bem como de uma disputa geopolítica com os Estados Unidos quanto à liberdade de navegação nas águas contestadas. 

Os chineses ampliaram suas reivindicações sobre praticamente todo o Mar da China Meridional e ali ergueram bases insulares em atóis de coral ao longo dos últimos dez anos. Washington deu sua resposta com o envio de navios de guerra à região, no que classifica como “missões de liberdade de operação”.

Embora os EUA não tenham reivindicações territoriais na área, há décadas o governo norte-americano tem enviado navios e aeronaves da Marinha para patrulhar, com o objetivo de promover a navegação livre nas vias marítimas ​​internacionais e no espaço aéreo.

Segundo Aquilino, a razão da presença de Washington na região é “prevenir a guerra por meio da dissuasão e promover a paz e a estabilidade, inclusive envolvendo aliados e parceiros americanos em projetos com esse objetivo”.

Já a atuação de Beijing, de acordo com o almirante, é preocupante. “Acho que nos últimos 20 anos testemunhamos o maior acúmulo militar desde a Segunda Guerra Mundial pela República Popular da China”, afirmou. “Eles avançaram todas as suas capacidades, e esse acúmulo de armamento está desestabilizando a região”.

Tags: