Ataque de drone em Mianmar destrói 120 caminhões de carga, relatam militares

Segundo a junta militar, metade dos 250 caminhões retidos em confrontos com grupos armados, próximo à fronteira nordeste com a China, foram destruídos

O regime militar de Mianmar relatou na quinta-feira (23) que metade dos mais de 250 caminhões retidos em combates contra grupos armados de minorias étnicas, próximos à fronteira nordeste com a China, foram destruídos em um incêndio provocado por bombas lançadas por drones. As informações são da rede Voice of America (VOA).

O major-general Zaw Min Tun, porta-voz do conselho militar, afirmou que os veículos, estacionados próximo a uma zona comercial em Muse, foram incendiados por drones pertencentes a organizações rebeldes por volta das 9h45 (horário local) da quinta-feira.

A ação representa um dos eventos mais impactantes e, em termos de danos materiais, o mais significativo desde a ofensiva coordenada pelas forças da autodenominada Aliança das Três Irmandades – formada pelo Exército da Aliança Democrática Nacional de Mianmar (MDNAA, da sigla em inglês), o Exército de Libertação Nacional de Ta’ang (TNLA) e o Exército Arakan (AA) – em Shan, no norte, em 27 de outubro, afetando caminhões utilizados no transporte de mercadorias entre Mianmar e a China.

Caminhão em Mianmar (Foto: WikiCommons)

O porta-voz da junta militar de Mianmar, Zaw Min Tun, informou que aproximadamente 120 dos 258 caminhões estacionados próximo à passagem de fronteira de Kyin-San-Kyawt foram destruídos em um incêndio, que ele atribuiu à aliança étnica.

O fogo foi controlado após cerca de seis horas, sem registro de vítimas. Le Kyar Win, porta-voz do MDNAA, negou responsabilidade pelo ataque, culpando os próprios militares.

A aliança alcançou vitórias significativas, com o governo militar admitindo a perda de três cidades logo no início dos combates. As operações envolveram a destruição de pontes e o bloqueio de estradas cruciais no interior de Mianmar, resultando na interrupção quase total do comércio transfronteiriço legal com a China nas últimas três semanas, gerando uma considerável perturbação econômica para o regime birmanês.

Avanço rebelde

O regime militar que impera em Mianmar enfrenta atualmente seu maior desafio desde o golpe de Estado de fevereiro de 2021. A manutenção do poder pela junta que governa o país está ameaçada devido aos recentes avanços obtidos por grupos rebeldes étnicos armados que lançaram uma ofensiva conjunta em outubro.

Segundo a agência Reuters, o presidente do Conselho de Administração do Estado, Myint Swe, afirmou em reunião do Conselho de Defesa e Segurança Nacional na metade deste mês, que o país corre o risco de “ser dividido em várias partes” caso o governo não consiga “gerir eficazmente os incidentes que acontecem na região fronteiriça.”

Em seus últimos avanços, os insurgentes conquistaram cerca de cem posições antes ocupadas pelos militares, assumindo o controle de armas e outros equipamentos militares que tendem a aumentar seu poder de fogo em confrontos futuros.

Por que isso importa?

Mianmar enfrenta “uma campanha de terror com força brutal”, segundo palavras da ONU (Organização das Nações Unidas). A repressão imposta pelo governo militar foi uma reação às eleições presidenciais de novembro de 2020.

Na ocasião, o partido NLD (Liga Nacional pela Democracia, da sigla em inglês) venceu as eleições com 82% dos votos, ainda mais do que havia obtido no pleito de 2015. Em fevereiro de 2021, então, a junta militar, que já havia impedido a sigla de assumir o poder antes, prendeu a líder democrática Aung San Suu Kyi, dando início a protestos respondidos com violência pelas forças de segurança nacionais.

As ações abusivas da junta levaram ao isolamento global de Mianmar, e em dezembro de 2022 o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma resolução histórica que insta os militares a libertar Suu Kyi. A Resolução 2669 ainda exige “o fim imediato de todas as formas de violência” e pede que “todas as partes respeitem os direitos humanos, as liberdades fundamentais e o Estado de Direito”.

A proposta, feita pelo Reino Unido, foi aprovada no dia 21 de dezembro de 2022 com 12 votos a favor. Os membros permanentes China e Rússia se abstiveram, optando por não exercer vetos. A Índia também se absteve.

Beijing e Moscou, por sinal, estão entre os poucos governos do mundo que mantêm relações formais com Mianmar, inclusive vetando resoluções que venham a condenar a brutalidade dos atos contra opositores e a população civil em geral, como no caso de dezembro de 2022.

Inicialmente, o golpe de Estado foi recebido com reprovação pela China, que vinha dialogando para firmar acordos comerciais com o governo eleito e perdeu financeiramente com a queda. Mas o cenário mudou rapidamente. Para não se distanciar da junta, Beijing classificou a prisão de Suu Kyi e de outros funcionários do governo como uma “remodelação de gabinete”, palavras usadas pela agência de notícias estatal Xinhua.

A China é um também dos principais fornecedores de armas para a juntar militar, desrespeitando um pedido de embargo global feito pela ONU para enfraquecer o regime birmanês. Há indícios de que as forças locais seguem se equipando com novos armamentos chineses, tendo ainda como fornecedores complementares a Rússia e o Paquistão.

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