Ativistas pedem libertação de homem preso por postar informações da filha de Xi Jinping

Niu Tengyu foi condenado a 14 anos de prisão por divulgar imagens da menina durante um debate sobre o líder chinês na internet

No dia 30 de dezembro de 2020, Niu Tengyu, então com 19 anos, foi condenado a mais de 14 anos de prisão por um tribunal da China. O crime atribuído a ele: postar na internet informações sobre Xi Mingze, filha do presidente Xi Jinping. Agora, quase três anos depois, ativistas chineses exilados iniciaram uma campanha pedindo a libertação do homem, segundo relatou a rede Radio Free Asia (RFA).

A campanha pela libertação de Niu foi revelada por Jie Lijian, um ativista que diz ter perdido o pai e a mãe para a violência estatal e hoje vive exilado. Ele publicou em sua conta no X, antigo Twitter, uma carta aberta assinada por mais de 300 pessoas que pede a libertação do jovem, sob a alegação de que o caso contra ele foi um grave erro judiciário.

Segundo Jie, o último contato de Niu com a família foi no dia 24 de novembro, por videoconferência. Na ocasião, ele sequer teria reconhecido a mãe, o que os ativistas alegam ser um efeito de medicamentos administrados à força no cárcere.

Xi Jinping no escritório das Nações Unidas em Genebra. 18 de janeiro de 2017 (Foto: UN Geneva/Flickr)

“Niu Tengyu nem reconheceu a própria mãe. Seus olhos estavam opacos e ele gritava e falava bobagens”, afirmou à RFA o ativista, que também alega ter sido torturado quando passou 52 detidos pela polícia chinesa em 2018, a ponto de carregar até hoje problemas psiquiátricos decorrentes das agressões.

Após a videoconferência, a mãe conta que foi ao presídio, onde não teve autorização para ver o filho pessoalmente. Em um primeiro momento, foi informada que ele estava bem. Ao insistir no pedido para vê-lo, escutou que Niu estava mentalmente perturbado e que o encontro não seria seguro.

Erro judicial

Na carta, os ativistas dizem que as informações sobre Xi Mingze foram na verdade publicadas por sites instalados fora da China que também revelaram dados sobre Deng Jiagui, cunhado do presidente. Porém, “ansiosos para agradar as altas autoridades”, o Judiciário e as forças de segurança da província de Guangdong teriam realizado uma grande operação para prender 24 pessoas acusadas de envolvimento.

Niu Tengyu estava entre os detidos, e contra ele foram imputados os crimes de “provocar brigas e distúrbios, divulgar informações pessoais de cidadãos e conduzir negócios ilegais.” Acabou recebendo a sentença mais pesada, apesar de negar ter sido o autor da postagem incriminadora. A mãe alega que ele foi torturado e forçado a escrever uma carta de confissão falsa.

A carta aberta diz, ainda, que diversa irregularidades pautaram o processo judicial, entre elas o fato de o julgamento ter ocorrido em segredo e de que Niu só teve acesso aos advogados que escolheu após o caso ter sido revelado pela mídia internacional.

Ainda assim, os ativistas alegam que a sentença foi “um completo erro judicial” e que o próprio governo chinês admite isso. Usa como argumento o fato de que 20 autoridades de Guangdong foram demitidas ou condenadas após o processo contra Niu, entre elas o chefe do Departamento de Segurança Pública local.

Confissão

Por fim, a RFA afirma que já em 2021 havia identificado o verdadeiro autor da postagem que levou à condenação, um indivíduo identificado apenas pelo pseudônimo L. Ele seria um editor do fórum online ZhinaWiki, no qual as informações de Xi Mingze foram publicadas.

“Ao longo desta investigação, todos os registos oficiais do caso, incluindo o veredito, admitem que a ZhinaWiki foi responsável por publicar. Mas ainda se recusam a admitir que houve um erro judiciário”, disse L.

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