Australianos marcham contra discriminação a povos indígenas

Além de protestarem contra racismo, australianos também foram às ruas pedir fim da violência contra indígenas

Milhares de pessoas foram às ruas da Austrália no último fim de semana em marchas contra o racismo, motivada pela morte de George Floyd nos EUA, e contra a discriminação contra a população indígena no país.

A população indígena australiana, dividida em aborígenes e os nativos do Estreito de Torres, representa apenas 3,3% dos 25 milhões de habitantes na Austrália. No entanto, somam mais de um quarto do sistema prisional, segundo a CNN.

Os indígenas australianos têm quase o dobro de probabilidade de morrer por suicídio, uma expectativa nove anos menor que a média, e taxas de mortalidade infantil mais elevada do que entre os não-indígenas.

Um estudo divulgado pela Universidade Nacional Australiana aponta ainda que 75% dos australianos têm uma visão negativa sobre os habitantes originais do país, que não tiveram a posse de suas terras reconhecidas com a chegada dos colonizadores britânicos.

Australianos marcham contra discriminação a povos indígenas
Manifestante carrega cartaz sobre morte de 400 indígenas sob custódia em protesto na Austrália (Foto: Kash Sirinanda/Twitter)

Reivindicações

Assim como nos EUA, há preocupações sobre como a polícia australiana trata os indígenas. Há casos de questionamentos sobre mortes mal explicadas.

A Change the Record, uma coalizão nacional de justiça para os indígenas, constatou que, entre 1980 e 2011, 449 indígenas morreram sob custódia. O número representa 24% de todas as mortes no período. Nenhum policial foi condenado pelos casos.

Para alguns manifestantes, a morte de George Floyd, um homem negro, pelas mãos de um policial branco se assemelha à morte de David Dungay. O aborígene morreu em 2015 e suas últimas palavras também teriam sido “não consigo respirar.”

Na semana passada, em Sydney, um menino indígena de 17 anos foi ferido por um policial. O oficial foi flagrado chutando as pernas do jovem e o imobilizando no chão com ajuda de dois outros policiais. Os envolvidos foram afastados até que as investigações sejam concluídas.

“Não houve escravidão”

O primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, afirmou nesta quinta (11) que os manifestantes podem ser punidos por terem violado as restrições para evitar a disseminação do novo coronavírus no país, informou a CBS.

Ainda comentando sobre os atos antirracistas que ocorreram no país, Morrison declarou que “não houve escravidão na Austrália”, comentário que gerou inúmeras críticas.

Historiados e ativistas apontaram evidências de servidão de aborígenes por contrato e de milhares de escravos levados das ilhas do Pacífico para trabalhar nas plantações de cana-de-açúcar na Austrália.

Herança destruída

A mineradora australiana Rio Tinto assumiu no último dia 5 a responsabilidade pela destruição de um terreno arqueológico aborígene onde havia peças de 46 mil anos. O local foi explodido para expandir uma mina de minério de ferro.

No entanto, Chris Salisbury se recusou a responder diretamente quando perguntado se a empresa sabia que os proprietários tradicionais não queriam a destruição do local, na região australiana de Pibara.

A empresa recebeu autorização do governo para destruir o local em 2013, pelo então ministro para assuntos aborígenes do estado da Austrália Ocidental.

Um ano depois, um levantamento arqueológico aprovado pela empresa constatou que a região era de alto significado arqueológico.

Foram descobertos diversos artefatos, como ferramentas e uma cinta trançada feita de cabelo humano, cujos testes de DNA mostraram pertencer aos ancestrais do povo Puutu Kunti Kurrama e Pinikura. Os objetos continuam em posse da Rio Tinto.

O povo indígena tentou impedir a destruição do local próximo à data marcada para a explosão, mas não teve sucesso.

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