Beijing condena ‘perseguição’ a estudantes chineses que tentam entrar nos EUA

China quer que Washington cancele uma ordem da era Trump que afeta pesquisadores com supostas conexões militares

O governo chinês lançou duras críticas às autoridades dos Estados Unidos, alegando assédio contra estudantes chineses e consequente entrada deles barrada no país. A situação tem relação a uma medida tomada pela Casa Branca para fortalecer a segurança nacional, segundo reportagem do jornal South China Morning Post.

Segundo declarações recentes do porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin, dezenas de cidadãos chineses têm enfrentado negativas de entrada nos EUA a cada mês, mesmo portando documentos de viagem e vistos válidos.

Wang relatou que acadêmicos chineses que escolhem os Estados Unidos como destino educacional têm enfrentado há bastante tempo uma série de problemas, incluindo “supressão e perseguição abusivas com motivação política”. São situações que, segundo ele, incluem interrogatórios frequentes, detenções, confissões forçadas, persuasões e até mesmo deportações.

China quer que Washington cancele uma ordem executiva da era Trump que afeta pesquisadores com supostas conexões militares chinesas
Estudantes chinesas em sala de aula (Foto: WikiCommons)

Nos últimos meses, Wang revelou que dezenas desses estudantes, incluindo alguns que já estavam em território norte-americano, foram obrigados a voltar para o país natal. Ele destacou que essas medidas são constantemente seletivas, discriminatórias e “refletem uma aplicação política da lei”. Diante do quadro, Beijing declarou “profunda insatisfação” com a situação, opondo-se a tais práticas.

A pasta chefiada por Wang também pediu a Washington que revogue uma medida da Casa Branca descrita como “equivocada” que impede a entrada de estudantes de pós-graduação e pesquisadores supostamente ligados ao exército chinês.

A ordem executiva, conhecida como Proclamação Presidencial 10043, foi implementada por razões de segurança nacional durante a presidência de Donald Trump em 2020. Wang afirmou que essa medida vai contra um acordo estabelecido em novembro entre os presidentes da China e dos EUA para intensificar as trocas interpessoais.

A proclamação suspendeu a entrada de certos estudantes e pesquisadores chineses nos Estados Unidos, que estavam associados ao Exército de Libertação Popular da China e estavam envolvidos em atividades de coleta de propriedade intelectual sensível no país, segundo detalhou o site The American Presidency Project

A promulgação foi emitida para proteger a segurança nacional dos Estados Unidos e impedir a aquisição de tecnologias e propriedades intelectuais sensíveis pelos militares chineses.

Mal-estar diplomático

As recusas estão prejudicando as trocas interpessoais entre Beijing e Washington, contrariando o acordo dos líderes sobre o fortalecimento dessas interações, segundo Wang. Desde o encontro de Xi Jinping e Joe Biden em San Francisco no ano passado, as interações entre os dois países aumentaram, com a China facilitando vistos para turistas norte-americanos e mais voos diretos. No entanto, as trocas acadêmicas ainda enfrentam desafios.

O Global Times, um jornal nacionalista vinculado ao People’s Daily, o principal jornal do Partido Comunista Chinês (PCC), informou na última quinta-feira (4) um aumento nos casos de “interrogações ou deportações injustificadas e rudes” de estudantes chineses na fronteira dos EUA.

Segundo o relatório, em um caso, um pesquisador chinês do National Institutes of Health, agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, foi “interrogado” no Aeroporto Internacional de Dulles, no estado da Virgínia, em novembro, sendo informado de que seu visto de estudante F-1 – um tipo de visto para estudantes estrangeiros nos EUA – estava anulado.

Restrições da era Trump

Durante o mandato do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foram implementadas várias políticas e medidas que impactaram estudantes chineses. Algumas das ações mais conhecidas incluíram:

Restrições de Visto: Trump administrou restrições de visto, particularmente contra estudantes e pesquisadores chineses, em nome de preocupações com a segurança nacional. Isso incluiu a Proclamação Presidencial 10043, que limitava a entrada nos EUA de estudantes e pesquisadores com supostas ligações com o exército chinês.

Encerramento de Consulados: Em julho de 2020, os Estados Unidos fecharam o consulado chinês em Houston, alegando atividades de espionagem. Esse fechamento afetou a emissão de vistos para estudantes chineses.

Retórica Anti-China: A retórica hostil de Trump em relação à China, muitas vezes expressa por meio de discursos e mídias sociais, criou um ambiente político tenso, contribuindo para a percepção de estudantes chineses como alvo de suspeita.

Pandemia de Covid-19: Durante a pandemia, Trump frequentemente culpou a China pela propagação do vírus, o que exacerbou as tensões entre os dois países e pode ter contribuído para um aumento de sentimentos anti-chineses.

Tags: