Censura na China: jornalista proeminente que criticou a economia é silenciado

Wu Xiaobo comparou os problemas econômicos do país à Grande Depressão americana de 1929 e foi banido do Weibo

Um jornalista financeiro chinês, renomado por suas análises econômicas, foi banido das redes sociais após comparar os desafios econômicos do país à Grande Depressão de 1929. As informações são do site Hong Kong Free Press.

Nesta terça-feira (27), os usuários que tentaram acessar a conta no Weibo (uma espécie de Twitter local) de Wu Xiaobo, um influente jornalista de negócios e autor seguido por mais de 4,7 milhões de pessoas, se depararam com uma mensagem exibida que informava que a página estava atualmente banida, sob a justificativa de “violação de leis e regulamentos pertinentes”.

Um dia antes, moderadores de conteúdo da plataforma haviam anunciado o bloqueio de três usuários verificados por “difamarem” o desenvolvimento do mercado de valores mobiliários e “aumentarem a taxa de desemprego”. Embora o Weibo não tenha divulgado os nomes de usuário completos das contas bloqueadas, mencionou que uma delas tinha um nome que iniciava com “Wu” e terminava com “Bo”.

Bolsa de Valores de Beijing (Foto: WikiCommons)

Com relação aos comentários de Xiaobo, de fato a recuperação econômica da China após a pandemia de Covid-19 está enfrentando instabilidade, com dados recentes indicando enfraquecimento nesse processo de retomada nos últimos tempos.

Já nesta terça-feira, a página de Wu no Weibo teve removido todo o conteúdo postado desde abril de 2022.

Por meio de sua coluna regular no site da revista financeira chinesa Caixin, Wu tem abordado há algum tempo os problemas econômicos do país, como a queda na taxa de natalidade e o aumento alarmante do desemprego entre os jovens.

Em uma artigo publicado em maio, Wu escreveu: “É provável que o enorme exército de desempregados se torne um pavio que acenda o barril de pólvora”, fazendo uma comparação com a forte recessão econômica que atingiu o capitalismo internacional no final da década de 1920. Em outra coluna recente, ele questionou se a flexibilização monetária seria capaz de “resolver os problemas econômicos atuais”.

Até terça-feira, essas colunas ainda não haviam sido removidas da internet, disse a reportagem.

Por que isso importa?

Na China, qualquer manifestação de critica ao governo é censurada, e o simples fato de citar a democracia leva à repressão do Estado. Algo que ficou claro nos protestos de 2019 em Hong Kong, que até hoje rendem prisões e denúncias contra seus organizadores e participantes.

Segundo a ONG Hong Kong Watch, baseada no Reino Unido, até o dia 31 de janeiro deste ano, 10.294 pessoas foram presas por motivação política em Hong Kong, sendo que cerca de 2,3 mil foram posteriormente processadas pelo Estado.

A internet também deixa claro que os valores democráticos não têm vez na China, que bloqueia as redes sociais dos EUA e utiliza suas próprias versões, estas submetidas à censura do Partido Comunista Chinês (PCC). É o caso do Weibo.

E a repressão imposta pela China a seus cidadãos já ultrapassa as próprias fronteiras. Artigo publicado pela revista Foreign Policy em outubro do ano passado mostra como o PCC, fazendo uso da lei de segurança nacional de Hong Kong, tem poder para calar críticos que vivem a milhares de quilômetros de distância.

Aconteceu, por exemplo, com o empresário britânico Bill Browder, alertado pelo Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido a não viajar para países que honrem os tratados de extradição com Hong Kong. Ativista em defesa de sanções contra funcionários do governo britânico cúmplices de abusos dos direitos humanos, ele poderia ser preso e extraditado para o território controlado pela China por seu discurso crítico contra os abusos cometidos pelo PCC.

Isso porque a lei de segurança nacional prevê a acusação de qualquer pessoa, em qualquer lugar, por discurso considerado hostil aos interesses de segurança chineses. “Os ditames da China afetam os esportes, Hollywood, o mundo editorial, os meios de comunicação e o jornalismo, o ensino superior, as empresas de tecnologia e mídia social e muito mais”, diz o artigo.

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