China reprime comportamento ‘afeminado’ no cinema e em programas de TV

Ideia central é de que uma atmosfera "patriótica e revolucionária" seja predominante na indústria de entretenimento, que tem sofrido cerco das autoridades

O governo da China anunciou na semana passada que pretende implementar uma nova medida a fim de reprimir o que considera “comportamentos afeminados” na televisão e em anúncios publicitários. O controle caberá à NRTA (Administração Nacional de Rádio e Televisão), órgão estatal que regula todo conteúdo televisivo e radiofônico do país. As informações são da rede britânica BBC

A determinação tem como objetivo evitar a “vulgaridade”, o que inclui homens maquiados. A ideia central é a de que uma atmosfera patriótica seja predominante na indústria de entretenimento, que tem sofrido um cerco das autoridades.

A NRT declarou que o filtro moral e político deve ser usado como critério já na seleção de elenco para os programas, sobretudo no caso da televisão. Além disso, alguns shows de talentos foram proibidos, bem como a votação popular em reality shows.

China reprime comportamento 'afeminado' no cinema e em programas de TV
O ator e modelo Kuan Hong (Foto: reprodução/Instagram)

As autoridades responsáveis por regular a mídia chinesa também anunciaram que as mudanças visam a promover uma imagem “mais masculina” e não pouparam críticas aos atores que usam maquiagem. Muitos dos artistas famosos são tidos pelo Estado como antirrevolucionários, já que representam na telona a ilusão de um estilo de vida burguês.

Com as determinações, ganharão força programas fechados com uma proposta de promoção e celebração da cultura tradicional chinesa.

Diante da promessa do presidente Xi Jinping de “prosperidade comum” e redistribuição de riqueza, também haverá controle nos altos salários pagos às estrelas, algumas delas envolvidas em casos de sonegação de impostos. No final de agosto, a atriz chinesa Zheng Shuang foi multada em US$ 46 milhões (cerca de R$ 237,8 milhões) por sonegação.

Sexo e homossexualidade

A homossexualidade deixou de ser crime no país nos anos de 1990, mas a censura cumpre o papel de apagar o tema das telas. As cenas com referências sexuais do filme Bohemian Rhapsody, por exemplo, que trata da biografia de Freddie Mercury, que era gay, foram sumariamente cortadas da obra.

A comunidade gay da China ainda sofreu outro ataque recente, quando diversos perfis relacionados a temas LGBTQIAP+ foram arbitrariamente excluídos da rede social chinesa WeChat.

Cenas de sexo e nudez também foram editadas em séries populares, como Game of Thrones.

Por que isso importa?

A repressão a assuntos referentes à orientação sexual indica um aumento do controle sobre conteúdo LGBTQIAP+ por parte do Partido Comunista Chinês (PCC), que governa o país e impõe forte censura à manifestação de opinião.

A homossexualidade foi descriminalizada pelo governo chinês em 1997 e, mais recentemente, em 2001, foi excluída da lista de distúrbios mentais pela Sociedade Chinesa de Psiquiatria. Mas isso não colocou fim à perseguição que existe no país à comunidade gay.

Em maio, autoridades universitárias chinesas pediram a alunos que fechassem grupos com temática homoafetiva em redes sociais, ou então que deixassem de mencionar ali os nomes de suas universidades. Na província de Jiangsu, foi aberta uma investigação contra grupos que lutam pelos direitos das mulheres e da minorias sexuais, sob a justificativa de “manter a estabilidade”.

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