China condena à morte chefes da máfia Bai — entenda o império que enganou o mundo com ciberfraudes

Cinco líderes da máfia Bai, responsável por golpes bilionários e tráfico humano em Mianmar, foram condenados à morte

A China deu um recado duro ao crime organizado no Sudeste Asiático. Um tribunal em Shenzhen condenou à morte cinco integrantes da máfia Bai, de Mianmar, acusada de comandar uma rede de golpes digitais, tráfico humano e assassinatos que movimentou mais de 29 bilhões de yuans, cerca de US$ 4,1 bilhões. As informações são da rede BBC.

De acordo com a mídia estatal chinesa, 21 membros da família Bai e seus associados foram julgados por crimes como fraude, homicídio e lesão corporal. O patriarca Bai Suocheng e seu filho Bai Yingcang estão entre os executados, ao lado de Yang Liqiang, Hu Xiaojiang e Chen Guangyi.

Outros dois membros receberam penas de morte suspensas, cinco foram condenados à prisão perpétua, e nove terão penas entre três e 20 anos.

Tribunal Popular Intermediário de Shenzhen (Foto: WikiCommons)

As investigações revelaram que os Bai controlavam uma milícia armada e 41 complexos dedicados a cassinos e operações de cibercrime na cidade fronteiriça de Laukkaing, um território marcado pela pobreza, prostituição e corrupção.

Durante anos, o grupo atraiu trabalhadores com falsas ofertas de emprego e os mantinha em cativeiro para aplicar golpes online, sob tortura e ameaças. Muitos dos prisioneiros eram cidadãos chineses.

As operações criminosas resultaram na morte de seis pessoas e no suicídio de uma vítima, além de dezenas de feridos.

Em setembro, outro tribunal chinês já havia condenado à morte 11 membros da família Ming, um clã rival de Laukkaing. Ambas as famílias cresceram sob a proteção do atual líder militar de Mianmar, Min Aung Hlaing, que buscava consolidar poder na região após depor antigos senhores da guerra.

Em um documentário exibido pela mídia estatal chinesa, o próprio Bai Yingcang admitiu:

“Naquela época, nossa família era a mais poderosa, tanto nos círculos políticos quanto militares”.

O programa também mostrou relatos de vítimas que sofreram torturas brutais, incluindo espancamentos, unhas arrancadas e mutilações com facas de cozinha.

A ofensiva chinesa contra o cibercrime é uma das maiores já realizadas fora de seu território. Em 2023, Beijing emitiu mandados de prisão contra os líderes das quatro principais famílias mafiosas de Laukkaing. Parte deles foi extraditada para a China no início de 2024.

“É um aviso claro: não importa quem você seja ou onde esteja, se cometer crimes hediondos contra o povo chinês, pagará o preço”, afirmou um investigador no documentário.

Centros de golpes de proporções industriais

Os grupos criminosos do Sudeste Asiático se tornam líderes em fraudes cibernéticas, lavagem de dinheiro e serviços bancários clandestinos.

Muitos deles conseguiram assumir proporções industriais reinvestindo seus lucros e alavancando vastas forças de trabalho multilíngues compostas por milhares de vítimas traficadas.

De acordo com dados do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc), a região abriga centros de golpes em escala industrial, que geram cerca de US$ 40 bilhões de lucro por ano.

O crescimento dos grupos criminosos está ligado à capacidade de lavar dinheiro por meio de criptomoedas e bancos clandestinos. Com isso, grandes quantidades de receitas ilícitas se infiltram nos sistemas bancários de todo o mundo.

Essas máfias têm forte presença em zonas econômicas especiais e áreas fronteiriças, especialmente no CambojaLaosMianmar e Filipinas. Com o aumento da repressão policial, elas estão se deslocando para zonas mais remotas e inacessíveis, incluindo áreas controladas por grupos armados não estatais.

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