China critica relatório do Pentágono e diz que EUA são a maior ameaça à paz global

Porta-voz do Ministério da Defesa de Beijing diz que Washington "exagera e supervaloriza a inexistente 'ameaça militar chinesa'"

A “ameaça militar da China” é “inexistente”, e são os Estados Unidos quem de fato colocam em risco a paz mundial. Quem diz isso é o governo chinês, em resposta a um relatório divulgado na semana passada pelo Pentágono, o Departamento de Defesa norte-americano.

“Expressamos nossa forte insatisfação e oposição resoluta a este relatório”, disse o porta-voz do Ministério da Defesa chinês, Wu Qian, em comunicado cujo conteúdo foi reproduzido pela agência Reuters. Ainda segundo ele, Washington “exagera e supervaloriza a inexistente ‘ameaça militar chinesa’.”

O documento anual divulgado pelo governo norte-americano afirma que a China atingiu, em maio de 2023, a marca de 500 ogivas nucleares em seu arsenal, bem acima de projeções anteriores feitas por Washington e entidades independentes como o think tank sueco Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI na sigla em inglês).

Pentágono, em Washington D.C, sede do Departamento de Defesa (Foto: Pixabay/12091)

Ainda de acordo com o relatório, o objetivo de Beijing é reduzir ao máximo a diferença em relação ao arsenal nuclear dos EUA, sob a previsão de que o Exército de Libertação Popular (ELP) chinês tenha à disposição, até 2030, cerca de mil artefatos com capacidade nuclear.

Segundo Wu, o verdadeiro objetivo militar da China é se defender e assegurar a paz mundial, não atacar um alvo específico. Os Estados Unidos, ao contrário, seguem estimulando o conflito, de acordo com o porta-voz, que citou como evidência o apoio a Ucrânia e Israel nas guerras em curso na Europa e no Oriente Médio, contra Rússia e Hamas, respectivamente.

“Os EUA enviaram munições de urânio empobrecido e bombas de fragmentação para a Ucrânia, enviaram os seus grupos de combate para o Mediterrâneo e armas e munições para Israel. Será este o chamado ‘evangelho’ que o ‘defensor dos direitos humanos está trazendo para a região?’ questionou Wu, conforme relato da agência Associated Press (AP).

Como o relatório do Pentágono, Beijing também abordou a questão de Taiwan, principal foco de tensão entre os dois rivais atualmente. Enquanto Washington destaca o aumento da pressão econômica e diplomática sobre a ilha, a China alega mais uma vez que são os EUA que estimulam um conflito ao armarem as forças armadas do território que os chineses classificam como separatista.

“Pedimos aos EUA que parem de usar qualquer desculpa, qualquer método para fortalecer os laços militares EUA-Taiwan e armar ilegalmente Taiwan de qualquer forma”, disse o porta-voz.

China cada vez mais poderosa

Negativas à parte, o poder militar da China não para de crescer, o que explica a apreensão dos EUA. Um estudo publicado em junho deste ano pelo SIPRI diz que Beijing já havia aumentado seu arsenal nuclear de 350 para 410 ogivas até janeiro de 2023. O relatório do Pentágono vai além e diz que já são cerca de 500 ogivas, com Beijing investindo na construção de silos para mísseis com capacidade nuclear.

O documento também diz que as forças armadas chinesas desenvolveram novos mísseis balísticos intercontinentais (ICBMs, na sigla em inglês) convencionais, ou não nucleares. Isso “permitiria à República Popular da China ameaçar ataques convencionais contra alvos no território continental dos EUA, no Havaí e no Alasca”, diz o texto.

De quebra, o ELP chinês ostenta hoje a maior marinha do mundo em numero de embarcações militares, com 370, e no ano passado apresentou seu terceiro porta-aviões. A força aérea chinesa também cresce rapidamente, com um alto investimento sobretudo em sistemas aéreos não tripulados, sendo capaz de rivalizar com qualquer potência ocidental.

Beijing tem o segundo maior orçamento de Defesa do mundo, tendo investido US$ 292 bilhões no setor em 2022, segundo o site Statista. Somente os EUA gastaram mais, US$ 877 bilhões. Rússia (US$ 86,4 bilhões), Índia (US$ 81,4 bilhões), Arábia Saudita (US$ 75 bilhões) e Reino Unido (US$ 68,5 bilhões) aparecem a partir da terceira colocação, nesta ordem.

Já o exército permanente chinês tem cerca de dois milhões de soldados, mais que qualquer outra nação. A Índia é a segunda maior força do tipo no mundo, com cerca de 1,45 milhão de tropas, contra 1,39 milhão dos EUA, mais uma vez de acordo com o Statista.

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