China e Rússia vetam novo pacote de sanções à Coreia do Norte após teste com míssil

Votos de Moscou e Beijing, que alegaram que as novas sanções poderiam agravar cenário, têm poder de veto do órgão internacional de paz da ONU

Rússia e China vetaram na última quinta-feira (27) um novo pacote de sanções econômicas à Coreia do Norte, que seria um resposta a novos testes de mísseis balísticos realizados no país. Foi a primeira vez, em 16 anos, que os dois membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) usaram suas prerrogativas para obstruir uma punição à nação liderada por Kim Jong-un. As informações são da rede alemã Deutsche Welle (DW).

A votação acabou em 13 a 2, resultado que não levou a medida adiante, já que os votos de Moscou e Beijing têm poder de veto no órgão internacional de paz da ONU. A contagem marcou a primeira divisão no Conselho desde que Pyongyang começou a receber punições, em 2006.

Apresentada pelos Estados Unidos, a resolução propunha reduzir a quantidade de petróleo que a Coreia do Norte poderia importar legalmente. Seria uma represália a um teste de míssil intercontinental realizado na última quarta-feira (25).

Conselho de Segurança da ONU durante reunião (Foto: United Nations Photo/Flickr)

Segundo diplomatas ocidentais, uma versão da resolução pode retornar à Câmara dependendo da conduta da Coreia do Norte no futuro quanto a esse tipo de experimento bélico.

Autoridades dos EUA se manifestaram sobre a votação dividida, definida por eles como “um afastamento acentuado do histórico de ação coletiva do Conselho sobre essa questão”.

Pelo Twitter, o vice-embaixador dos EUA na ONU, Jeffrey Prescott, se mostrou temeroso quanto ao futuro. “A votação de hoje significa que a Coreia do Norte se sentirá mais livre para tomar mais medidas de escalada. Mas não podemos nos resignar a esse destino. Isso seria muito perigoso”, disse ele.

As justificativas dadas pelas nações contrárias às sanções foram pautadas na possibilidade de uma potencial piora nas tensões, caso ocorressem. O jornal árabe Aawsat repercutiu a fala de Vasily Nebenzya, embaixador da Rússia na ONU, que chamou a resolução de “um caminho para um beco sem saída”.

“Parece que nossos colegas americanos e outros ocidentais estão sofrendo com o equivalente ao bloqueio criativo. Eles parecem não ter resposta para situações de crise além da introdução de novas sanções”, disse ele.

Já o enviado da China, Zhang Jun, alegou que a medida causaria “efeitos negativos crescentes e escalada de confronto”.

O chinês ainda acrescentou que Washington queria que a resolução falhasse para “espalhar as chamas da guerra” como parte de seu esforço para pressionar a China.

Punições “apressadas”

Na opinião de alguns analistas e diplomatas, os Estados Unidos podem ter se apressado em propor penalidades logo após os testes de mísseis ordenados por Jong-un.

“Acho que foi um grande erro os EUA pressionarem pelo que certamente fracassaria, em vez de mostrarem oposição unificada às ações da Coreia do Norte”, disse Jenny Town, diretora do site 38 North, organização que analisa eventos dentro e ao redor da nação asiática.

“No atual ambiente político, a ideia de que China e Rússia poderiam concordar com os EUA em qualquer coisa teria enviado um forte sinal para Pyongyang”, disse ela.

Antes da votação, a embaixadora dos EUA na ONU, Linda Thomas-Greenfield, defendeu a resolução, dizendo que ela “restringiria a capacidade da Coreia do Norte de avançar seus programas ilegais de armas de destruição em massa e mísseis balísticos.

Segundo ela, a medida também facilitaria a entrega de ajuda humanitária, algo de necessidade urgente, já que o país lida com um surto de Covid-19. Não há um programa público de vacinação implementado por lá.

O governo Joe Biden disse repetidamente que está disposto a dialogar com a Coreia do Norte sem pré-condições, mas encontrou pouco interesse da parte norte-coreana, cujo líder Kim Jong-un realizou três reuniões de alto nível com o antecessor da Casa Branca, Donald Trump.

Por que isso importa?

A movimentação militar de Pyongyang aumenta a tensão na região, já que o país tem encarado a Coreia do Sul e as demais nações ocidentais como “inimigas”. O regime comunista afirma que não há “necessidade de se sentar frente a frente com as autoridades sul-coreanas e não há questões a serem discutidas com eles”. Isso inclui a questão nuclear.

Ao lado de EUA e Japão, os sul-coreanos têm pressionado Pyongyang a evitar a proliferação de armas nucleares e cooperar para manter a paz e a estabilidade na península. As negociações pela desnuclearização do país, porém, estão travadas desde 2019.

A Coreia do Norte quer que os EUA e aliados suspendam as sanções econômicas impostas a seu programa de armas. Até agora, o presidente Kim Jong-un recusou as tentativas de aproximação diplomática do líder norte-americano Joe Biden. A Casa Branca, por sua vez, diz que não fará concessões para que Pyongyang volte às negociações.

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