China impede que atletas indianas de região disputada participem dos Jogos Asiáticos

Competidoras de Arunachal Pradesh, reivindicada por Beijing, não foram autorizadas a entrar no território chinês para o evento

Três atletas indianas de wushu, que no Ocidente se popularizou como kung fu, foram impedidas de entrar na China para competir nos Jogos Asiáticos, que começam sábado (23) na cidade chinesa de Hangzhou. Elas são nascidas no Estado indiano de Arunachal Pradesh, que Beijing reivindica quase na totalidade como parte de seu território. As informações são do jornal Hindustan Times.

Embora tenham recebido suas credenciais de competição para o evento esportivo, que funcionam como visto de entrada, Nyeman Wangsu, Onilu Tega e Mepung Lamgu não conseguiram acessar suas autorizações de viagem, necessárias na chegada ao país anfitrião. Elas foram as únicas da delegação de wushu da Índia que encontraram tal obstáculo.

Mosteiro budista de Tawang, em Arunachal Pradesh (Foto: Arkadipta Chandra/WikiCommons)

“Assim que a delegação recebeu os cartões de credenciamento do Comitê Organizador, isso significou que foi autorizada a viajar para os Jogos Asiáticos. Mas, surpreendentemente, apenas essas três atletas não puderam baixar seus documentos e não puderam embarcar no voo”, disse uma autoridade indiana não identificada.

Esta é a segunda vez em dois meses que as três atletas não conseguem entrar na China. Nos Jogos Universitários Mundiais de Chengdu, disputados entre 18 de julho e 8 de agosto, elas receberam vistos grampeados e não colados, o que indica que Beijing não reconhece a soberania indiana sobre Arunachal Pradesh. Nova Délhi, então, optou por não enviar toda a delegação.

Agora, pessoas familiarizadas com a questão a classificam como “mais complicada que da última vez”, mas dizem que o governo indiano tenta encontrar uma solução. Bhupendra Singh Bajwa, presidente da Associação de Wushu da Índia e chefe da delegação do país nos Jogos, diz que aguarda uma resposta do Comitê Organizador e do Conselho Olímpico da Ásia.

As competições de wushu começam no domingo (24). As atletas proibidas de competir pediram ao ministro das Ciências da Terra da Índia, Kiren Rijiju, que é de Arunachal Pradesh, que cuide do caso. Se não forem autorizadas a viajar, elas querem que a Índia boicote a cerimônia de abertura e apresenta um protesto formal contra os organizadores.

Por que isso importa?

disputa pela fronteira entre China e Índia começou em 1962, em meio à guerra entre os dois países. No final dos anos 80, o então primeiro-ministro indiano Rajiv Gandhi buscou reestabelecer os laços com Beijing.

As tensões voltaram a aumentar após medidas tomadas pelas autoridades indianas, como o apoio às demandas por autonomia do Tibete, a crescente cooperação de defesa com EUA, Japão e Austrália, e restrições de investimentos chineses na Índia.

A relação atingiu seu pior momento em  abril de 2020, quando soldados rivais se envolveram em combates em vários pontos da área montanhosa que divide os dois países. O problema começou com uma troca de acusações sobre desrespeito à Linha de Controle Real.

Então, em 15 de junho de 2020, a paz foi definitivamente quebrada e houve confronto entre soldados indianos e chineses em Ladakh. Na ocasião, 20 soldados indianos e quatro chineses morreram em combates corporais entre as tropas das duas nações. O confronto envolveu basicamente paus e pedras, sem nenhum tiro ter sido disparado.

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