China questiona as reais intenções do Japão ao aumentar orçamento de defesa: “Muito perigoso”

Beijing afirma que Tóquio "aumenta as tensões regionais" e indaga se ainda mantém sua "política exclusivamente voltada para a defesa"

Na última sexta-feira (23), o Japão anunciou um orçamento de US$ 320 bilhões para o setor de Defesa ao longo dos próximos cinco anos, sendo US$ 51,4 bilhões em 2023. Assim, Tóquio planeja se preparar melhor para um eventual conflito prolongado, inclusive incrementando seu potencial bélico com mísseis capazes de atingir a China. O anúncio não foi bem recebido por Beijing, que classificou o incremento militar do vizinho como “muito perigoso” e questionou se o governo japonês realmente pretende manter sua política exclusivamente defensiva.

“Observamos relatórios relevantes e expressamos nossa preocupação com o aumento significativo do orçamento de Defesa do Japão. O Japão tem aumentado as tensões regionais para buscar avanços militares”, disse na terça-feira (27) Wang Wenbin, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, em entrevista publicada no site da pasta.

Segundo ele, Tóquio precisa “refletir seriamente sobre sua história de agressão”, possivelmente referindo-se à Segunda Guerra Sino-Japonesa, que se estendeu de 1937 a 1945 e acabou inserida no contexto da Segunda Guerra Mundial.

“Este é um desenvolvimento muito perigoso e levou a sérias dúvidas entre os vizinhos asiáticos do Japão e a comunidade internacional em geral sobre se o Japão está genuinamente comprometido com uma política exclusivamente voltada para a defesa e um caminho de desenvolvimento pacífico”, declarou Wang.

Japão deixa sua posição pacifista para trás e investirá pesado em armamento (Foto: DVIDS/Divulgação)
Precedente perigoso

O Japão, por sua vez, argumenta que a invasão da Ucrânia pela Rússia criou um perigoso precedente e poderia encorajar a China a atacar Taiwan. Para o primeiro-ministro japonês Fumio Kishida, uma eventual invasão chinesa representaria uma ameaça às ilhas próximas, pois levaria à interrupção do fornecimento de semicondutores e daria um nó nas rotas marítimas de petróleo.

“Consideramos se nossas atuais forças poderiam impedir ameaças contra nosso país e se elas poderiam nos defender se essas ameaças se tornassem reais”, disse Kishida durante coletiva de imprensa em Tóquio, segundo a agência Reuters. Segundo ele, porém, “o status quo não é suficiente”, daí a necessidade de investir mais no setor de Defesa.

O recurso, que será distribuído da guarda costeira à cibersegurança, permitirá ao Japão desenvolver seus próprios mísseis hipersônicos, um projeto a ser implementado em cinco anos que representa uma atualização radical de suas capacidades de defesa.

Os mísseis Tomahawk norte-americanos também estão sendo considerados para esse propósito, de acordo com o plano japonês. O armamento tem um alcance de mais de 1.250 quilômetros, o que significa que pode ser usado para atingir bases navais nas costas leste da China e da Rússia.

Tóquio tem questões territoriais mal resolvidas com Beijing. As ilhas Senkaku, embora sob controle do Japão, formam um arquipélago reivindicado pela China. Barcos chineses são constantemente vistos na região, uma forma de o governo chinês pressionar os japoneses em meio à disputa territorial. Já a Ilha Yonaguni recebeu uma de quatro novas bases militares japonesas no Pacífico, de olho em um possível ataque chinês.

Inclusive, o anúncio do governo japonês ocorreu um dia após Tóquio relatar que uma patrulha da guarda costeira chinesa foi avistada perto das ilhas Senkaku. O porta-aviões chinês Liaoning e navios de guerra do Exército de Libertação Popular (ELP) também têm realizado exercícios militares no Pacífico Ocidental desde 16 de dezembro, manobras condenadas pelo Japão e seus aliados.

“Vemos a China como um desafio estratégico para a paz e segurança de nosso país e para a paz e estabilidade da comunidade internacional”, disse Kishida, segundo quem Tóquio e Beijing têm uma responsabilidade conjunta pela paz e prosperidade na região e no mundo.

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