De olho na China, Japão anuncia maior incremento militar desde a Segunda Guerra Mundial

Investimento prevê inclusive a produção de míssil balístico hipersônico para lidar com a tensão crescente na vizinhança

De tradição pacifista, o Japão surpreendeu ao anunciar nesta sexta-feira (16) um reforço militar de US$ 320 bilhões, cifra que deve incrementar seu potencial bélico com mísseis capazes de atingir a China e melhor preparar Tóquio para um eventual conflito prolongado. É o maior plano de Defesa do país desde a Segunda Guerra Mundial, prometido em meio a tensões na região e paralelamente à invasão russa na Ucrânia. As informações são da agência Reuters.

Entre os temores do governo do primeiro-ministro Fumio Kishida está o de que Moscou tenha aberto um precedente ao invadir o território vizinho e isso possa encorajar Beijing, descrita como um “desafio estratégico sem precedentes”, a seguir o exemplo em Taiwan. Para o líder japonês, o conflito representa uma ameaça às ilhas próximas, que resultaria numa interrupção do fornecimento de semicondutores e daria um nó nas rotas marítimas que fornecem petróleo ao Oriente Médio.

“Consideramos se nossas atuais forças poderiam impedir ameaças contra nosso país e se elas poderiam nos defender se essas ameaças se tornassem reais”, disse Kishida durante coletiva de imprensa em Tóquio. “Para ser franco, o status quo não é suficiente”.

Tóquio pode se tornar uma das três potências bélicas do mundo em cinco anos (Foto: WikiCommons)

O recurso, que será distribuído da guarda costeira à cibersegurança, ainda irá oportunizar ao Japão desenvolver seus próprios mísseis hipersônicos, um projeto a ser implementado em cinco anos que representa uma atualização radical de suas capacidades de defesa.

Os mísseis Tomahawk da Raytheon Technologies Corp. também estão sendo considerados para esse propósito, de acordo com o plano japonês. O armamento tem um alcance de mais de 1.250 quilômetros, o que significa que pode ser usado para atingir bases navais nas costas leste da China e da Rússia.

Considerando a postura de administrações anteriores, o rápido armamento do Japão era impensável, embora conte com forte aprovação popular. A militarização do país, que já abriga forças dos EUA, incluindo porta-aviões e uma força expedicionária da Marinha, tem o apoio da maioria dos eleitores, segundo apontam pesquisas de opinião. Algumas falam em 70% de aprovação popular.

“Vemos a China como um desafio estratégico para a paz e segurança de nosso país e para a paz e estabilidade da comunidade internacional”, disse Kishida, acrescentando que os dois vizinhos têm uma responsabilidade conjunta pela paz e prosperidade da região e do mundo.

Com base em orçamentos atuais, o plano fará do Japão o terceiro maior gastador militar do mundo, ficando somente atrás dos EUA e da China.

Diplomatas chineses reagiram aos planos de Tóquio e fizeram uma representação solene a seus colegas japoneses sobre a nova política, segundo relatou nesta sexta (16) o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China Wang Wenbin, durante coletiva em Beijing. “Isso desacredita a China e nos opomos firmemente a isso”, disse ele.

Em Taiwan, o Ministério das Relações Exteriores disse em nota que a política demonstra o “alto nível de preocupação” do Japão em relação a Taiwan, o Estreito de Taiwan e a estabilidade global e ressalta a “posição firme” do campo democrático dos países.

Rusgas territoriais

Tóquio também tem questões territoriais mal resolvidas com Beijing. As ilhas Senkaku, embora estejam sob controle do Japão, formam um arquipélago reivindicado pela China. Barcos chineses são constantemente vistos na região, uma forma de o governo chinês pressionar os japoneses em meio à disputa territorial. Já a Ilha Yonaguni recebeu uma de quatro novas bases militares japonesas no Pacífico, de olho em um possível ataque chinês.

Outra questão citada pelo Ministério da Defesa japonês é o risco representado pela ameaça nuclear que vem da Coreia do Norte, que em 2022 realizou um número sem precedentes de testes de armas.

Cooperação militar

Nesse contexto, Tóquio tem fortalecido sua aliança de segurança com Washington. Além disso, vem expandindo a cooperação militar com nações amigas na região da Ásia-Pacífico e na Europa.

Entre as atividades recentes, o Japão participou do Pitch Black 2022no norte da Austrália, exercício aéreo multinacional de grande escala organizado pela Força Aérea Real Australiana (RAAF, da sigla em inglês) em parceria com os EUA. Foram 17 nações participantes, cem aeronaves e mais de 2,5 mil militares envolvidos.

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