A China tem conquistado um apoio crescente para sua reivindicação sobre Taiwan, com 70 países reconhecendo oficialmente a soberania de Beijing sobre a ilha e aceitando que o país busque a unificação nacional sem a exigência de que isso ocorra de forma pacífica. O dado faz parte de um levantamento do Lowy Institute relatado pela revista The Economist e reflete uma intensa ofensiva diplomática chinesa, especialmente em países do sul global.
Essa mudança ficou mais evidente nos últimos 18 meses, período em que a China intensificou sua atuação diplomática para garantir respaldo internacional. O estudo revela que 119 países — o equivalente a 62% dos Estados-membros da ONU (Organização das Nações Unidas) — já endossam a soberania chinesa sobre Taiwan. Desses, 89 também apoiam explicitamente os esforços de unificação, sem limitar o apoio a iniciativas pacíficas.
A estratégia de Beijing visa legitimar possíveis ações contra Taiwan em caso de crise e reduzir o impacto de sanções ocidentais. “É plausível concluir que quase metade dos Estados-Membros da ONU, intencionalmente ou não, endossou formalmente uma tomada da ilha pela República Popular da China”, afirmou Benjamin Herscovitch, ex-oficial de defesa australiano.

O apoio está concentrado em países do Sul Global, com 97% dos que adotaram a nova linguagem localizados nessa região, incluindo África do Sul, Egito e Paquistão. O respaldo, em muitos casos, está vinculado a investimentos chineses em infraestrutura e recursos naturais por meio da Nova Rota da Seda (BRI, na sigla em inglês, de Belt And Road Initiative).
Um exemplo recente é o do Sri Lanka, que, após visita do presidente Anura Kumara Dissanayake à China em janeiro, declarou apoio firme a “todos os esforços do governo chinês para alcançar a reunificação nacional”, substituindo termos mais vagos usados anteriormente. Nepal e Malásia também adotaram novas formulações favoráveis à China em declarações conjuntas recentes.
O avanço diplomático de Beijing parece ser uma resposta às sanções aplicadas à Rússia após a invasão da Ucrânia. “Observando o isolamento diplomático que a Rússia enfrentou, eles preferem evitar isso”, disse Ja Ian Chong, da Universidade Nacional de Singapura, destacando a preocupação da China em garantir apoio internacional em um eventual conflito envolvendo Taiwan.
Enquanto isso, os Estados Unidos tentam consolidar alianças para conter a influência chinesa. Em 7 de fevereiro, o presidente Donald Trump e o primeiro-ministro japonês Ishiba Shigeru declararam oposição a qualquer tentativa de mudar o status quo de Taiwan por meio da força ou coerção, sinalizando uma postura mais firme diante das ações de Beijing.
Apesar dessas iniciativas, a China continua a ampliar sua rede de apoio. Em setembro, 53 governos africanos assinaram uma declaração em Beijing reconhecendo Taiwan como território chinês e apoiando todos os esforços de unificação. Países tradicionalmente neutros, como a Malásia, também ajustaram suas posições para se alinhar mais de perto com Beijing.
Essa crescente base de apoio poderá ter um papel decisivo em uma eventual crise envolvendo Taiwan, dificultando a imposição de sanções internacionais e limitando a capacidade dos Estados Unidos e seus aliados de mobilizar uma resposta global. O desafio para o Ocidente será ainda maior do que o enfrentado no caso da Ucrânia.