Com novo membro, bloco liderado por China e Rússia fortalece oposição aos EUA e seus aliados

Organização para Cooperação de Xangai sediará novo encontro entre Xi e Putin e passará a contar com Belarus, uma importante adição militar

Astana sedia a partir desta quarta-feira (3) uma cúpula da Organização para Cooperação de Xangai (OCX), grupo com foco político e econômico cujo papel fica cada vez mais evidente: reduzir o poder do bloco liderado pelos EUA sob o argumento da “multipolaridade“. A ideia foi defendida em mais de uma ocasião pelos dois principais líderes do grupo, os presidentes Vladimir Putin, da Rússia, e Xi Jinping, da China, que terão mais um encontro na capital do Cazaquistão.

A reunião da OCX marcará também a adição de um novo membro, Belarus, com a presença de seu presidente Alexander Lukashenko, de acordo com a agência Associated Press (AP). Mesmo sem um governante efetivo desde a morte de Ebrahim Raisi em maio, o Irã estará representado pelo presidente em exercício Mohammad Mokhbar, conforme o país aguarda eleições que definirão o sucessor.

Os presidentes da China, Xi Jinping e da Rússia, Vladimir Putin, em Beijing, maio de 2024 (Foto: Kremlin)

Inclusive a Otan (Organização do Tratado do atlântico Norte) terá um representante no evento, Recep Erdogan, presidente da Turquia, que mantém boas relações com os países representados em Astana e cogita se juntar ao grupo, sustentado paralelamente as boas relações com Washington.

A presença de Erdogan é um sinal particularmente relevante de força política enviado por Xi e Putin ao Ocidente, algo que vem sendo destacado por analistas nos últimos anos. “O flerte da Turquia com a Organização para Cooperação de Xangai, dominada pela China, lança dúvidas sobre o comprometimento de Ancara com a integração Euro-Atlântica”, diz artigo de 2022 assinado por Jan Gaspers, chefe de pesquisas da unidade de política europeia do Instituto Mercator de Estudos da China (MERICS), de Berlim.

E pouco mudou de lá para cá. Em outubro de 2023, o think tank Carnegie Endowment for International Peace afirmou que a estratégia de Ancara, de se dividir entre a Otan e “organizações que desafiam o Ocidente”, não é contraditória. É, sim “parte integrante da ‘política externa de 360 ​​graus’ do país, uma abordagem que prioriza a flexibilidade e a independência estratégica, com o objetivo de regenerar o papel histórico da Turquia como uma grande potência mundial.”

Embora a edição efetiva da Turquia não esteja à vista, a OCX já tem força suficiente para incomodar o Ocidente, sobretudo no campo econômico. Índia e Paquistão tornaram-se membros em 2017, e o grupo conta, a partir da adição de Belarus, com dez países que somam cerca de 40% da população mundial, de acordo com a rede CNN.

Um esforço que se soma ao BRICS, composto por China, Brasil, Rússia, Índia e África do Sul, nos planos de Beijing e Moscou de difundir sua influência, invariavelmente sob o argumento de preservação da paz. Algo que Xi destacou no encontro anterior com Putin, em maio, em Beijing, ao afirmar que “o confronto de blocos e a política de poder ameaçam diretamente a paz mundial e a segurança de todos os países.”

Apesar do discurso belicista, a Organização não tem viés militar, e os especialistas a destacam mesmo como uma ferramenta política de Xi e Putin. “Eles querem que a OCX seja percebida como um grande bloco que não pode mais ser ignorado”, disse à CNN Eva Seiwert, especialista em política externa chinesa no Instituto Mercator. “Com todos esses países se juntando, China e Rússia (querem mostrar que) ambas têm muitos apoiadores para suas visões de mundo.”

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