Coreia do Norte acelera construção de nova usina de enriquecimento de urânio, alerta AIEA

Instalação indica plano de Kim Jong-un para ampliar arsenal atômico em meio ao fortalecimento da aliança com a Rússia

A Coreia do Norte está construindo uma nova instalação de enriquecimento de urânio dentro de seu principal complexo nuclear, em Yongbyon, segundo alerta divulgado nesta semana pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). A estrutura, de acordo com o diretor-geral da agência, Rafael Grossi, possui “dimensões e características semelhantes às da usina de enriquecimento de Kangson”, localizada nos arredores de Pyongyang. As informações são do The New York Times.

A revelação é vista por analistas como a indicação mais concreta até o momento de que o líder norte-coreano, Kim Jong-un, pretende expandir seu arsenal atômico, contrariando resoluções do Conselho de Segurança da ONU, que proíbem o país de desenvolver armamentos nucleares.

Kim Jong-un, líder da Coreia do Norte (Foto: Divulgação/kcnawatch.org)

Além do novo prédio em Yongbyon, Grossi informou que engenheiros norte-coreanos parecem estar reprocessando combustível nuclear usado em um laboratório radioquímico, o que sugere o aumento da produção de plutônio, outro componente essencial para armas nucleares. O país já é conhecido por operar duas usinas não declaradas de enriquecimento de urânio: uma em Kangson e outra no próprio complexo de Yongbyon.

Desde 2023, Kim tem usado a mídia estatal para exibir suas instalações atômicas e pressionar pela produção em massa de urânio altamente enriquecido. Em janeiro deste ano, o líder visitou uma “base de produção de material nuclear” e inspecionou pessoalmente fileiras de centrífugas, usadas no enriquecimento de urânio. Na ocasião, declarou que o país deveria “superar a meta de produção de materiais nucleares de grau militar”.

As movimentações nucleares ocorrem enquanto Pyongyang fortalece laços militares com Moscou. O governo norte-coreano enviou armas e soldados em apoio à Rússia na guerra contra a Ucrânia. A aliança pode aumentar o poder de barganha de Kim em uma eventual retomada das negociações com os Estados Unidos ou com a Coreia do Sul, embora ele tenha reiterado não ter interesse em retornar à mesa de diálogo.

Estima-se que a Coreia do Norte já tenha construído cerca de 50 ogivas nucleares e disponha de material físsil suficiente para fabricar outras 40, segundo o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri). As últimas negociações com os EUA fracassaram em 2019, durante encontro em Hanói, no Vietnã, quando Kim e o presidente dos EUA, Donald Trump, então no primeiro mandato, não chegaram a um consenso sobre o ritmo de desnuclearização e o levantamento das sanções.

De volta à Casa Branca, Trump sinalizou que deseja retomar o diálogo. O atual presidente sul-coreano, Lee Jae-myung, também defende uma aproximação.

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