Coreia do Norte anuncia surto de ‘febre’ nas forças armadas com ao menos uma morte

Soldados que trabalham em obras estatais são as principais vítimas do problema, que começa a se espalhar e já chegou a Pyongyang

Ao menos um soldado norte-coreano morreu nos últimos dias vítima de uma doença misteriosa, que o fechado país asiático classifica apenas como mais um surto de “febre”. Vários casos foram detectados entre militares, com relatos de pneumonia e outros sintomas gripais entre os infectados. Devido à falta de informações por parte do regime, é impossível determinar se uma nova onda de Covid-19 está surgindo, segundo a rede Radio Free Asia (RFA).

De acordo com testemunhas, que tiveram suas identidades preservadas por questões de segurança, o surto tem atingido sobretudo soldados que trabalham em obras estatais. Eles vivem juntos em pequenos abrigos, e o acúmulo de pessoas é propício para a propagação de doenças.

Como muitos dos soldados costumam deixar sua região de atuação para visitar parentes, já foram identificados casos de “febre” inclusive na capital Pyongyang.

Bandeira da Coreia do Norte exposta em prédio: país enfrenta nova crise de saúde (Foto: WikiCommons)
Fronteiras reabertas

No início do mês, a Organização Mundial de Saúde (OMS) decretou oficialmente o fim da pandemia, embora tenha alertado que a Covid-19 continua sendo uma doença perigosa. Beijing e Pyongyang têm aproveitado a redução do risco para normalizar gradativamente as relações comerciais, com a reabertura de fronteiras que estavam fechadas para conter a propagação da doença.

Coincidência ou não, os casos na Coreia do Norte surgem no mesmo momento em que a China anuncia uma nova onda de Covid, cujo pico é aguardado para junho. A expectativa é de que até 65 milhões de pessoas sejam afetadas no território chinês.

De acordo com Greg Scarlatoiu, diretor executivo do Comitê de Direitos Humanos na Coreia do Norte, uma ONG com sede em Washington, um eventual surto chinês poderia facilmente atingir o país vizinho, embora não seja possível fazer qualquer associação direta entre a atual “febre” norte-coreana e o alerta feito por Beijing.

“A maior parte da fronteira da Coreia do Norte é com a China”, disse Scarlatoiu. “As trocas estão em um nível menor que antes da Covid, mas o perigo de contaminação existe e é uma possibilidade.”

A Coreia do Norte, que no início da pandemia negava ter identificado qualquer caso de Covid-19 no país, admitiu apenas em 2022 que um grande surto da doença havia começado. Os dados oficiais do governo apontam que 4,7 milhões de norte-coreanos, o que equivale a 18,5% da população, tiveram “febre” no ano passado, com 74 mortes.

Na visão de especialistas em saúde, os números são severamente subnotificados, pois é comum que mortes suspeitas sejam classificadas como tendo sido causadas por doenças respiratórias genéricas, não Covid-19. E, como agora, mesmo casos comprovadamente causados pelo coronavírus são tratados como parte do surto de “febre”.

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