Coreia do Norte demole centro de reuniões para famílias separadas pela guerra

Local permitia encontros entre norte e sul-coreanos, uma das poucas iniciativas de reconciliação entre os dois países

A Coreia do Norte começou a desmantelar uma instalação dedicada à reunião de famílias separadas pela Guerra da Coreia (1950-1953), informou o governo sul-coreano nesta quinta-feira (13). O local, situado na área turística do Monte Kumgang, era um dos poucos pontos de encontro permitidos entre parentes divididos pela fronteira. As informações são da Radio Free Asia.

A destruição da estrutura ocorre em um momento de forte tensão entre as duas Coreias, com o regime norte-coreano intensificando seu programa nuclear e classificando oficialmente a Coreia do Sul como um “inimigo primário e imutável”.

Hotel em Monte Kumgang (Foto: WikiCommons)
Fim de uma rara ponte humanitária

O centro de reuniões foi construído em 2008 com financiamento sul-coreano como parte de um projeto conjunto que permitia visitas limitadas de sul-coreanos ao Norte. Após uma cúpula histórica em 2000 entre os líderes dos dois países, o local se tornou um símbolo dos esforços de reconciliação intercoreana e sediou diversas rodadas de encontros entre famílias separadas pelo conflito.

No entanto, as reuniões familiares foram suspensas em 2010 após ataques norte-coreanos ao navio de guerra sul-coreano Cheonan e à Ilha Yeonpyeong. Os encontros foram retomados em 2013 e novamente em 2018, mas a deterioração das relações à medida que o Norte priorizava suas ambições nucleares levou a um novo cancelamento.

“O governo confirmou que a Coreia do Norte está demolindo o centro de reunião para famílias separadas na área turística do Monte Kumgang, o que destrói o desejo das famílias separadas de se reunirem”, declarou Koo Byung-sam, porta-voz do Ministério da Unificação da Coreia do Sul, responsável pelas relações intercoreanas.

Seul condena demolição

Diante da destruição da instalação, Seul expressou profundo pesar e pediu ao governo norte-coreano que interrompa a demolição. “O governo expressa profundo pesar pela demolição unilateral da instalação, que foi estabelecida por acordo entre as duas Coreias, e insta fortemente a Coreia do Norte a interromper imediatamente essa demolição”, afirmou Koo.

O porta-voz também ressaltou que a medida tomada pelo regime de Kim Jong-un é injustificável e que toda a responsabilidade recai sobre as autoridades norte-coreanas. O governo sul-coreano avalia possíveis ações, incluindo medidas legais.

Uma ferida aberta

A Guerra da Coreia separou milhões de famílias, muitas das quais perderam completamente o contato devido às rígidas restrições da Coreia do Norte. As reuniões esporádicas, embora raras, permitiam que parentes que passaram décadas sem notícias uns dos outros pudessem se reencontrar por poucos dias.

Segundo dados do Ministério da Unificação da Coreia do Sul, até o final de 2023, 97.350 sul-coreanos registrados como separados de suas famílias no Norte já haviam falecido, restando 36.941 sobreviventes, muitos deles idosos que ainda esperam pela chance de rever seus entes queridos.

A decisão de Pyongyang de demolir o centro de reuniões reforça sua postura de distanciamento definitivo da Coreia do Sul e sinaliza o encerramento de uma das poucas iniciativas humanitárias que ainda conectavam as duas nações.

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