Coreia do Norte põe indústria de defesa a serviço da Rússia e vira peça-chave na guerra da Ucrânia

Coreia do Sul afirma que Pyongyang entregou mais de três milhões de cartuchos de artilharia às tropas de Moscou desde agosto

A Coreia do Norte vem desempenhando um papel crucial no esforço de guerra da Rússia, a ponto de ser apontada como fator determinante para o resultado do conflito. De acordo com o Ministério da Defesa da Coreia do Sul, fábricas de munição norte-coreanas operam “a plena capacidade” para equipar Moscou, com mais de três milhões de cartuchos de artilharia e 500 foguetes entregues ao aliado desde agosto de 2023. As informações são da rede CNN.

Shin Won-sik, ministro da Defesa sul-coreano, afirmou que Pyongyang tem cedido armas e munição a Moscou em troca principalmente de alimentos, a ponto de ajudar o país a estabilizar seus estoques e assim controlar um problema crônico de desabastecimento. Teriam sido entregues à Rússia cerca de 6,7 mil contêineres carregados com cartuchos de artilharia e foguetes.

Segundo Shin, as fábricas que produzem armas e munição para uso da própria Coreia do Norte operam com apenas 30% da capacidade, devido à escassez de matéria-prima e eletricidade no país afetado por sanções e pelo consequente isolamento. Já as fábricas que produzem os mesmos itens para uso da Rússia “operam a plena capacidade.”

Kim e Putin durante encontro no Kremlin, 2019: aliança fortalecida em meio à guerra (Foto: WikiCommons)
Aliança decisiva

Ao avaliar a questão, o think tank Instituto Internacional de Estudos Estratégicos destacou a relevância do apoio norte-coreano a Moscou, em artigo assinado por Nigel Gould-Davies, pesquisador de política, economia e segurança da antiga União Soviética e especialista em Rússia e Eurásia. 

“A Rússia tem poucos aliados, mas a sua dependência de drones e mísseis balísticos do Irã e de munições da Coreia do Norte a aproximou de ambos”, diz Gould-Davies no artigo. “Dado que a Rússia e a Ucrânia dependem cada uma do apoio externo, as capacidades e escolhas dos Estados que fornecem a ambos os países determinarão o resultado da guerra.”

Munição de sobra

A aliança militar entre Rússia e Coreia do Norte se fortaleceu em setembro de 2023, quando ocorreu o encontro entre o líder comunista Kim Jong-un e o presidente russo Vladimir Putin em Moscou. Surgiram, então, especulações de que os dois países negociariam a compra e venda de armas ou munição para fortalecer o arsenal russo na guerra contra a Ucrânia.

A partir dali, têm se acumulado provas de que Pyongyang de fato ajuda Moscou a se armar. Em outubro, imagens de satélite coletadas pela empresa civil norte-americana Planet Labs indicaram movimentação intensa em um pátio ferroviário norte-coreano a apenas cinco quilômetros da fronteira russa, um sinal de que os dois países vinham realizando transações comerciais.

Na ocasião, Gary Samore, antigo coordenador da Casa Branca para controle de armas e armas de destruição em massa, disse que a Coreia do Norte tem grande estoque de munição para artilharia, tanques e foguetes e poderia enviar material antigo, da era soviética, ao aliado.

Novas sanções

Enquanto Seul afirma que cerca de 6,7 mil contêineres foram entregues a Moscou, o governo dos EUA trabalha com números ainda maiores. Na sexta-feira (23), um dia antes de a guerra completar dois anos, o Departamento de Estado fez um balanço do conflito e comentou o acordo entre Rússia e Coreia do Norte.

“Desde setembro de 2023, a RPDC entregou mais de dez mil contêineres de munições ou materiais relacionados com munições à Rússia”, disse o órgão governamental norte-americano. Por conta das transações, duas empresas russas foram sancionadas por Washington, acusadas de atuar no transporte do material militar.

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