Com a ajuda do Irã, Rússia se prepara para abrir sua própria fábrica de drones de combate

Washington exibiu imagens de satélite da futura fábrica russa de drones, localizada cerca de 800 quilômetros a leste de Moscou

Os governos da Rússia e do Irã estão aprofundando a cooperação militar em meio à guerra da Ucrânia. Inclusive, Teerã forneceu os meios para que Moscou seja capaz de produzir seus próprios drones de combate, cruciais nos esforços de guerra russos. A informação foi divulgada no final da última semana pelo governo dos EUA à rede Voice of America (VOA).

“Temos informações de que a Rússia está recebendo materiais do Irã necessários para construir uma fábrica de UAVs (veículos aéreos não tripulados, da sigla em inglês) dentro da Rússia”, disse o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby. “Esta planta pode estar totalmente operacional no início do próximo ano.”

O antigo modelo 129 do drone iraniano Shahed (Foto: WikiCommons)

Junto do comunicado, Washington exibiu o que seria uma imagem de satélite das futuras instalações da fábrica russa de drones, localizada na zona econômica especial de Alabuga, localizada na República do Tataristão, cerca de 800 quilômetros a leste de Moscou.

Enquanto não é capaz de produzir seus próprios drones, a Rússia importa do Irã os modelos Shahed, o que já levou o governo norte-americano a impor sanções a indivíduos e empresas iranianos. Entre os sancionados estão altos funcionários da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC, na sigla em inglês), a elite das forças armadas de Teerã.

A alegação de que os dois aliados negociavam um acordo para a produção de drones na Rússia não é novidade. Autoridades norte-americanas levantaram tal suspeita em novembro do ano passado, e agora ratificaram a afirmação. Para viabilizar o processo de produção, o Irã enviou projetos e componentes a Moscou, com a expectativa de que as armas sejam usadas já em 2023.

Ucrânia sob ataque

Desde 2022 vêm se acumulando evidências de que “drones suicidas” iranianos são usados por Moscou para atacar não apenas as tropas de Kiev, mas também a infraestrutura essencial ucraniana. O resultado é um país sem energia elétrica, água potável nas torneiras e gás, o que foi um problema especialmente durante o inverno que passou.

Yurii Ihnat, porta-voz da força aérea ucraniana, disse à VOA que os drones iranianos usados pelas tropas de Moscou são “um alvo difícil porque a Ucrânia tem recursos limitados de defesa aérea.” E acrescentou: “A defesa aérea da Ucrânia hoje está focada na proteção de grandes cidades, objetos de infraestrutura e infraestrutura crítica”.

O militar ainda explicou o que torna os modelos fornecidos a Moscou particularmente perigosos para o inimigo, no caso Kiev. “Os drones iranianos são difíceis de detectar, eles são lentos. Os Shahed voam muito baixo, usam o delta do rio e a floresta e fogem dos radares”, afirmou Ihnat.

A posição iraniana

No ano passado, Hossein Amirabdollahian, ministro das Relações Exteriores iraniano, comentou as denúncias de que seu país vem armando Moscou não apenas com drones, mas também com mísseis balísticos. Ele confirmou parcialmente tal afirmação, mas disse que as transações foram realizadas somente antes da guerra.

“Os comentários sobre a parte dos mísseis estão completamente errados, e a parte dos drones está correta. Demos um número limitado de drones à Rússia meses antes da guerra na Ucrânia”, disse Amirabdollahian, segundo a agência Al Jazeera.

A alegação, porém, é incompatível com o que dizem os norte-americanos, segundo os quais o Irã enviou drones à Rússia já com o conflito em curso. No fim de outubro, os EUA disseram ter evidências também de que Teerã enviou especialistas para orientar as tropas russas sobre o funcionamento dos UAVs.

Na ocasião, John Kirby declarou que um “número relativamente pequeno” de instrutores da IRGC foi à Ucrânia para orientar os militares russos.

Amirabdollahian não comentou a última denúncia, mas deu a entender que seu governo se opõe ao uso dos drones no conflito atual. “Enfatizamos às autoridades ucranianas que, se houver evidências sobre o uso de drones iranianos na guerra da Ucrânia pela Rússia, eles devem nos apresentar”, afirmou. “Se nos for provado que a Rússia usou drones iranianos na guerra da Ucrânia, não ficaremos indiferentes.”

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