Um possível conflito no Estreito de Taiwan, especialmente uma tentativa de invasão chinesa até 2027, pode impactar gravemente na capacidade de defesa europeia. a avaliação consta de um relatório publicado pelo Royal United Services Institute (Rusi), segundo o qual a redistribuição de recursos dos Estados Unidos para o Indo-Pacífico pode enfraquecer o papel da Otan (Organização do Tratado do AtlÂntico Norte) em conter ameaças na Europa Oriental, particularmente diante de uma Rússia reconstituída.
A hipótese de um conflito simultâneo em Taiwan e na Europa foi descrita como um desafio estratégico significativo. De acordo com o documento, “o período de 2027 a 2030 representa uma janela de alta vulnerabilidade para Taiwan”. A análise considera que recursos-chave, como sistemas integrados de defesa aérea e mísseis balísticos, podem ser transferidos do teatro europeu para conter uma invasão chinesa, deixando lacunas críticas no continente europeu.

A Otan diante de uma nova realidade estratégica
O relatório ressalta que o rearmamento da Rússia, previsto para o final da década, pode coincidir com a redistribuição de capacidades dos EUA. Entre os principais fatores mencionados está a crescente dependência europeia de sistemas defensivos americanos, como o IAMD (Defesa Integrada Aérea e de Mísseis), que seriam fortemente demandados em uma crise no Indo-Pacífico. Além disso, a possível coordenação entre Rússia e China em um cenário de conflito pode representar uma ameaça inédita para a estabilidade global.
Embora o foco principal do relatório seja o impacto no equilíbrio militar entre EUA, China e Rússia, a análise também destaca a necessidade de os países europeus assumirem maior responsabilidade por sua própria segurança. O documento sugere que nações da Otan poderiam investir mais em capacidades autônomas, reduzindo a dependência de recursos americanos.
Os autores do relatório, Sidharth Kaushal e Juliana Suess, apontam que “mesmo uma estratégia americana baseada na negação marítima, ao invés de ataques maciços ao território chinês, ainda exigiria uma realocação substancial de forças”. A dependência europeia de sistemas de mísseis e de defesa aérea, que têm aplicação em ambos os teatros, foi identificada como um ponto crítico.
Rússia e o cenário europeu
O relatório também enfatiza que uma crise no Estreito de Taiwan criaria uma oportunidade estratégica para a Rússia explorar vulnerabilidades europeias. Apesar das sanções e do desgaste militar na Ucrânia, Moscou poderia buscar ganhos táticos ou políticos enquanto a atenção global está voltada para o Indo-Pacífico. Especialistas citam a possibilidade de ataques cibernéticos, pressão política ou mesmo ações militares limitadas em áreas como o Báltico.
Além disso, o estudo indica que a capacidade da Otan de reagir rapidamente a múltiplos cenários seria severamente testada. Sistemas como o SEAD (Supressão de Defesas Aéreas Inimigas) e plataformas de logística estratégica, como transporte aéreo e marítimo, também estariam em demanda simultaneamente.
Com base nesses fatores, o Rusi recomenda uma revisão das estratégias de dissuasão da Otan e uma avaliação mais detalhada de como os aliados europeus podem preencher as lacunas emergentes. “Este é um momento para decisões estratégicas de longo prazo”, concluem os autores.