A política externa não é um filme de ação e, mesmo se fosse, a diplomacia chinesa estaria longe de parecer com o heroísmo apresentado nos filmes “Wolf Warrior” (do inglês “lobo guerreiro”), aponta a revista inglesa The Economist.
Usados para nomear a estratégia da diplomacia da China, os filmes retratam um país forte, que protege os cidadãos de ameaças estrangeiras. Para a revista, não se assemelha a atual estratégia chinesa de atacar e intimidar outros países.
Na China, houve quem divulgasse teorias da conspiração de que o exército norte-americano espalhou o vírus. As agressões seriam sinal de que a o país se fortaleceu e “está cansado de esperar que o mundo mostre respeito”, diz a revista.
Na avaliação da “The Economist”, em longo prazo, as atitudes de Beijing terão um custo. A conduta dos chineses tende a ofender outros governos, “sobretudo quando lhes é dito para agradecer e elogiar a China antes de terem a permissão de comprar kits médicos chineses”.
No segundo filme, o herói Leng Feng, um soldado aposentado chinês, mata mercenários africanos e norte-americanos. Ao mesmo tempo, salva refugiados chineses e africanos da mira dos vilões.
No entanto, a China de 2020 não é “magnânima” como a do filme, defende a revista. A diplomacia “wolf warrior” consiste em ataques dos chineses a funcionários de governos estrangeiros em mídias sociais e pela mídia estatal, fortemente controlada.
Já em seu território, africanos que moram em Guangzhou foram testados para o novo coronavírus e postos em quarentena forçada em abril.
Alguns foram expulsos de imóveis alugados e obrigados a dormir na rua. Outros foram obrigados pela polícia a deletar postagens nas redes sociais sobre os maus-tratos.
Para diplomatas chineses e a mídia local, a “suposta discriminação contra africanos” nunca aconteceu. Trataria-se de agentes anti-China divulgando fake news.
Até estudantes chineses no exterior foram impedidos de voltar para casa, diante do desespero das autoridades chinesas em manterem o vírus longe do país, limitando a quantidade de voos para a China.
Nas redes sociais, esses estudantes foram classificados como “mimados” e “crianças ricas não patriotas”.