Diplomata vê ameaça à paz e desaconselha Washington a reconhecer autonomia de Taiwan

EUA são o principal parceiro da ilha autogovernada, embora a reconheçam como parte da China

Oficialmente, os EUA consideram Taiwan parte da China. Embora seja o principal parceiro da ilha em termos comerciais e até militares, o governo norte-americano respeita o princípio “Uma Só China” estabelecido por Beijing. E, sob o risco de “minar” a paz caso aja de maneira distinta, o ideal é Washington que mantenha tal posição. Quem diz isso é Daniel Kritenbrink, secretário de Estado adjunto dos EUA para assuntos da Ásia Oriental e do Pacífico, que falou na terça-feira (30) a um subcomitê do Senado de seu país. As informações são da rede Radio Free Asia (RFA).

“Preservamos a paz e a estabilidade através do Estreito de Taiwan”, disse Kritenbrink. “Acreditamos que mudar esse quadro, mudar os elementos centrais da política dos EUA de ‘Uma Só China’, seria imprudente. E, em vez de contribuir para a estabilidade, acreditamos que a prejudicaria.”

Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas Forças Armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.

Comitiva de Washington em visita a Taiwan em 2022: relações extraoficiais (Foto: Twitter/Reprodução)

Nações estrangeiras que tratem a ilha como país autônomo estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, Washington é o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre EUA e China a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

Tensões à parte, o secretário adjunto avalia que o sistema “resistiu ao teste do tempo durante os últimos 45 anos” e não existe qualquer razão para mudá-lo. Desistir da aliança não está absolutamente nos planos de Washington, enquanto seguir no caminho oposto, de reconhecer a independência de Taiwan oficialmente, geraria muitos prejuízos.

A proximidade entre os EUA e a ilha já é grande o bastante para levar Beijing a endurecer a retórica. A crise ganhou contornos mais dramáticos após a visita da então presidente da Câmara dos Representantes dos EUA Nancy Pelosi a Taiwan em 2022. Foi a primeira pessoa ocupante do cargo a viajar para lá em 25 anos, atitude que mexeu com os brio de Beijing.

Em resposta, a China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes. O treinamento serviu como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.

Desde então, aumentou consideravelmente a expectativa global por uma invasão chinesa. Para alguns especialistas, caso do secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin, o ataque “não é iminente“. Entretanto, o secretário de Estado Antony Blinken afirmou em outubro de 2022 “que Beijing está determinada a buscar a reunificação em um cronograma muito mais rápido”.

As declarações do chefe da diplomacia norte-americana vão ao encontro do que disse Xi no 20º Congresso do PCC. “Continuaremos a lutar pela reunificação pacífica”, disse ele ao assegurar seu terceiro mandato à frente do país. “Mas nunca prometeremos renunciar ao uso da força. E nos reservamos a opção de tomar todas as medidas necessárias”.

Com a paz em jogo, Kritenbrink reforçou sua posição perante o Senado. “É importante que os Estados Unidos e os nossos aliados e parceiros continuem a ser a parte que defende o status quo, que defende a manutenção responsável do status quo”, declarou.

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