Duterte critica o ‘ídolo’ Putin: ‘Mato criminosos, não mato crianças e idosos’

Presidente das Filipinas também manifestou discordância em relação à expressão "operação militar especial" usada pela Rússia

No final de 2016, o presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, chegou a dizer que Vladimir Putin era seu “ídolo” e “amigo”. Seis anos se passaram desde que ambos se encontraram pela primeira vez, em Lima, no Peru, durante um fórum de cooperação Ásia-Pacífico. Agora, o líder filipino rompeu a boa relação ao criticar o homólogo russo pelas mortes de civis causadas por soldados da Rússia na Ucrânia. As informações são da rede CBS News.

Na terça-feira (24), o presidente das Filipinas, que deixará o cargo no dia 30 de junho e diz que se aposentará da política, contestou a guerra na Ucrânia ao comentar o consequente aumento do preço do petróleo. Foi a primeira vez que um aliado se posicionou contra Putin em função do conflito.

Em uma reunião semanal televisionada com os principais funcionários do gabinete, Duterte disse que não pretendia criticar Putin. Mas expôs sua discordância em relação à expressão “operação militar especial” usada pelo Kremlin. Segundo o filipino, trata-se claramente de uma guerra em larga escala contra uma “nação soberana”.

O presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, em encontro com o homólogo russo Vladimir Putin em fevereiro de 2016 (Foto: Kremlin)

O presidente das Filipinas fez um paralelo com o fato de receber duras críticas da comunidade internacional pela brutalidade de sua política antidrogas. Segundo ele, porém, há uma grande diferença em relação a Putin. “Muitos dizem que Putin e eu somos assassinos”, disse ele. “Mas eu mato criminosos, não mato crianças e idosos. Estamos em dois mundos diferentes”.

Oficialmente, mais de seis mil pessoas morreram nas operações de combate ao tráfico nas Filipinas. Entretanto, organizações de defesa dos direitos humanos dizem que os números reais são muito maiores.

Duterte chegou a enfrentar uma investigação no Tribunal Penal Internacional (TPI), sob a acusação de aprovar execuções extrajudiciais. Legalmente, também brigou para impor novamente a pena de morte em crimes ligados ao tráfico, mas não obteve sucesso.

Ex-aliados?

A relação das Filipinas com a Rússia vinha evoluindo desde que Duterte assumiu o poder, em 2016. Moscou e Beijing tornaram-se importantes aliados do país em questões comerciais e militares, enquanto outro importante parceiro, os Estados Unidos, tornaram-se alvo de constantes críticas.

Ultimamente, o cenário vem mudando. A China também entrou na mira de Duterte, frequentemente acusado pelos opositores de fazer vista grossa para as ações abusivas do aliado asiático.

Em novembro de 2021, o presidente filipino criticou o ataque de embarcações da guarda costeira chinesa a barcos de reabastecimento de seu país, desdobramento de uma disputa territorial no Mar da China Meridional. “Isso não fala bem das relações entre nossas nações e nossa parceria”, declarou na ocasião.

O massacre de Bucha

A pressão global por punições à Rússia, às suas tropas e ao presidente Putin aumentou bastante depois que os corpos de dezenas de pessoas foram encontrados nas ruas de Bucha, quando as tropas locais reconquistaram a cidade três dias após a retirada do exército russo. As imagens dos mortos foram divulgadas pela primeira vez no dia 2 de abril, por agências de notícias, e chocaram o mundo.

As fotos mostram pessoas mortas com as mãos amarradas atrás do corpo, um indício de execução. Outros corpos aparecem parcialmente enterrados, com algumas partes à mostra. Há também muitos corpos em valas comuns. Nenhum dos mortos usava uniforme militar, sugerindo que as vítimas são civis.

“O massacre de Bucha prova que o ódio russo aos ucranianos está além de qualquer coisa que a Europa tenha visto desde a Segunda Guerra Mundial”, disse o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, em sua conta no Twitter.

Civis mortos nas ruas de Bucha cidade ucraniana (Foto: reprodução/Twitter)

Moscou, por sua vez, nega as acusações. Através do aplicativo russo de mensagens Telegram, o Ministério da Defesa russo disse que, “durante o tempo em que a cidade esteve sob o controle das forças armadas russas, nenhum morador local sofreu qualquer ação violenta”. O texto classifica as denúncias como “outra farsa, uma produção encenada e provocação do regime de Kiev para a mídia ocidental, como foi o caso em Mariupol com a maternidade“.

Entretanto, imagens de satélite da empresa especializada Maxar Technologies derrubam o argumento da Rússia. O jornal The New York Times realizou uma investigação com base nessas imagens e constatou que objetos de tamanho compatível com um corpo humano aparecem na rua Yablonska entre 9 e 11 de março. Eles estão exatamente nas mesmas posições em que foram descobertos os corpos quando da chegada das tropas ucranianas, conforme vídeo feito por um residente da cidade em 1º de abril.

Mais recentemente, Kiev alegou que apenas em Mariupol, que tem sido o principal alvo das tropas russas, foram encontrados ao menos 20 mil corpos de civis mortos. E acusa os soldados russos de depositarem cerca de nove mil cadáveres em valas comuns em Manhush, uma vila próxima à cidade portuária. Ao levar os corpos para outra localidade, o objetivo das tropas de Moscou seria esconder as evidências de crimes.

Vadym Boychenko, prefeito de Mariupol, comparou a descoberta ao massacre de Babi Yar, um fuzilamento em massa comandado nas proximidades de Kiev pelos nazistas em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial. Os corpos de cerca de 33 mil pessoas, essencialmente judeus, foram encontrados em valas comuns na ocasião.

“O maior crime de guerra do século 21 foi cometido em Mariupol. Este é o novo Babi Yar. Então, Hitler matou judeus, ciganos e eslavos. Agora, Putin está destruindo os ucranianos”, disse Boychenko. “Precisamos fazer tudo o que pudermos para impedir o genocídio”.

Os mortos de Putin

Desde que assumiu o poder na Rússia, em 1999, o presidente Vladimir Putin esteve envolvido, direta ou indiretamente, ou é forte suspeito de ter relação com inúmeros eventos, que levaram a dezenas de milhares de mortes. A lista de vítimas do líder russo tem soldados, civis, dissidentes e até crianças. E vai aumentar bastante com a guerra que ele provocou na Ucrânia.

Na conta dos mortos de Putin entram a guerra devastadora na região do Cáucaso, ações fatais de suas forças especiais que resultaram em baixas civis até dentro do território russo, a queda suspeita de um avião comercial e, em 2022, a invasão à Ucrânia que colocou o mundo em alerta.

A Referência organizou alguns dos principais incidentes associados ao líder russo. Relembre os casos.

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