Envolto em suspeitas, navio chinês ancora no Sri Lanka em “missão de paz”

Yuan Wang 5 poderá permanecer no porto cingalês até 22 de agosto, alimentando especulações de que sirva a fins militares

Um navio chinês atracou na terça-feira (16) no porto de Hambantota, no Sri Lanka, apesar das preocupações supostamente levantadas pela Índia de que a embarcação tenha objetivos militares. As informações são do portal New Indian Express.

O Yuan Wang 5, classificado por Beijing como um navio de “pesquisa”, chegou ao país insular com intenções diplomáticas, disse nesta quarta-feira (17) seu capitão, Zhang Hongwang. Sua ancoragem no porto cingalês, cuja construção custou US$ 1,5 bilhão e foi financiada com dinheiro chinês, “aprofundará as relações bilaterais no campo do espaço, ciência e tecnologia”, acrescentou ele.

“O Yuan Wang 5 é um navio em missão de paz e amizade. Como um porto internacional que acomoda navios multinacionais, Hambantota nos fornecerá os suprimentos necessários para navios de acordo com a prática internacional”, justificou Hongwang.

Yuan Wang 6 no porto de Papeete, Polinésia Francesa, dezembro de 2011 (Foto: Wikimedia Commons)

Não é o que pensa Nova Délhi, que já manifestou temores de que o navio estaria sendo usado para espionar suas atividades, segundo relatos da mídia local. Na visão de analistas de segurança, a embarcação tem sido utilizada para rastreamento espacial, capaz de monitorar lançamentos de satélites, foguetes e mísseis balísticos intercontinentais. Os EUA dizem que ele serve ao Exército de Libertação Popular (ELP) da China.

O governo do Sri Lanka chegou a solicitar a Beijing que adiasse sua visita, que estava agendada para ocorrer entre os dias 11 e 17 de agosto. O pedido foi uma reação à pressão da Índia, alegando preocupações de segurança com a capacidade técnica do navio e o objetivo da visita.

A solicitação de adiamento da visita do Yuan Wang 5 virou objeto de um debate político em Colombo, que resultou em uma declaração conjunta de boa parte da oposição, que culpou o governo por atrapalhar a questão.

Por outro lado, os proprietários do porto, o Hambantota Port Group, projeto de desenvolvimento estratégico chinês, lembraram ter dado as boas-vindas a navios de vários países, devidamente aprovados pelo governo do Sri Lanka e pela autoridade portuária local.

“Até julho, atendemos centenas de navios, incluindo Ro-Ro [cargueiros], navios de gás e petróleo, graneleiros, lay-ups, cruzeiros, iates e outros”, disse Johnson Liu, CEO do porto. 

Segundo o Ministério das Relações Exteriores do Sri Lanka, a embarcação poderá permanecer no porto chinês até a próxima segunda-feira (22).

A relação entre Índia e Sri Lanka teve um momento de atrito em um outro episódio envolvendo a China, quando Colombo concedeu permissão a um submarino chinês nuclear para atracar em um de seus portos em 2014.

Por que isso importa?

China e Índia travam uma disputa por influência no Sri Lanka, país que atravessa profunda crise econômica. Nova Délhi ganhou pontos recentemente ao enviar entre US$ 3 bilhões e US$ 4 bilhões em ajuda ao país, mas a presença de Beijing continua sendo muito forte.

Hambantota é crucial nessa disputa, vez que foi construído dentro da Nova Rota da Seda (BRI, na sigla em inglês, de Belt And Road Initiative), iniciativa lançada pelo presidente Xi Jinping para financiar obras de infraestrutura no exterior.

Como o Sri Lanka não conseguiu pagar as parcelas devidas, Beijing ativou a cláusula contratual que repassou à China o controle do porto. Daí a preocupação indiana de que as instalações sejam usadas com finalidade militar, não apenas comercial.

Nesse cenário, o temor da Índia no que tange ao navio está atrelado à capacidade de rastreamento dele. Assim, o Yuan Wang 5 poderia usar a visita para coletar informações sobre as usinas nucleares indianas de Kalpakkam e Koodankulam.

Oficialmente, porém, a Índia negou ter manifestado qualquer oposição à visita. “Rejeitamos categoricamente a ‘insinuação’ e tal declaração sobre a Índia. O Sri Lanka é um país soberano e toma suas próprias decisões independentes”, disse Arindam Bagchi, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores indiano.

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