EUA abandonam a diplomacia e apostam na dissuasão contra o avanço nuclear da Coreia do Norte

Analistas dizem que Pyongyang não abrirá mão de sua armas de destruição em massa, forçando Washington a responder pela força

Um processo diplomático para promover a desnuclearização da Coreia do Norte vinha sendo a prioridade dos EUA no trato com o regime comunista. Cada vez mais, porém, essa estratégia dá lugar a outra mais agressiva, focada na dissuasão. Essa é a avaliação de especialistas ouvidos pela rede Voice of America (VOA).

“Acredito que, em termos práticos, a maioria dos americanos acredita que não temos outra escolha neste momento a não ser priorizar a dissuasão, pelo menos no futuro próximo”, afirma Michael O’Hanlon, diretor de análises de política externa do grupo de pesquisas Brookings Institution, de Washington.

A opinião é compartilhada por Robert Peters, pesquisador de dissuasão nuclear e defesa antimísseis da Heritage Foundation. Segundo ele, existe hoje “pouca disposição em qualquer um dos partidos políticos” dos EUA para buscar a desnuclearização de Pyongyang, considerando os fracassos dos processos diplomáticos mais recentes.

“Acredito que todos os lados reconhecem que Kim não abrirá mão de armas nucleares a qualquer preço”, avalia Peters.

Kim Jong-un, líder da Coreia do Norte (Foto: Divulgação/kcnawatch.org)

No final do ano passado, a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) disse ter detectado níveis crescentes de atividade em um reator nuclear do complexo de Yongbyon, na Coreia do Norte, indício de que o país trabalha para obter mais plutônio para armas nucleares.

Em comunicado, a AIEA disse que a movimentação em Yongbyon é “motivo de preocupação” e alertou que o desenvolvimento do programa nuclear norte-coreano “é uma violação das resoluções do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) e é profundamente lamentável”.

Paralelamente, existe uma escalada de tensão na Península Coreana, motivada sobretudo pelos seguidos testes de mísseis feitos por Pyongyang, que levaram os EUA e seus aliados a realizarem manobras militares voltadas a intimidar o regime comunista e assim tentar conter sua beligerância.

Em dezembro, a ONU fez um alerta à Coreia do Norte após mais um lançamento. No caso, o país testou um míssil balístico intercontinental (ICBM, na sigla em inglês) do tipo Hwasong-18, que voou uma distância de cerca de mil quilômetros e atingiu uma altitude de 6,5 mil quilômetros antes de cair no mar.

“O governo dos EUA foi forçado a dar mais ênfase à dissuasão em vez da desnuclearização porque Kim Jong-un não demonstrou disposição para negociar um acordo nuclear ou mesmo se reunir com os EUA para discutir a desnuclearização”, diz à VOA Gary Samore, que foi coordenador da Casa Branca para controle de armas e armas de destruição em massa durante o governo Obama.

Bruce Bennett, analista sênior de defesa do think tank RAND Corporation, diz que um processo diplomático voltado à desnuclearização norte-coreana é visto hoje em Washington como “impossível”. E concorda que a dissuasão parece ser a estratégia mais aceita pelas autoridades norte-americanas.

“Essa mudança não significa que os EUA e a Coreia do Sul abandonaram a tentativa de negociar a desnuclearização, o que a Coreia do Norte se recusa firmemente a fazer, mas sim que nossos governos não veem mais a desnuclearização como uma solução viável para a ameaça de armas nucleares da Coreia do Norte”, afirmaBennett.

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