EUA aumentarão presença militar nas Filipinas para completar arco em torno da China

Washington alcançará a maior presença militar no país insular em 30 anos, uma movimentação que irritou Beijing

Os Estados Unidos desembarcaram com força nas Filipinas, apertando ainda mais seu cerco no Pacífico contra a crescente influência da China na região e sua ameaça de invasão de Taiwan. Isso porque Washington e Manila anunciaram nesta quinta-feira (2) um acordo que garantirá a Washington o acesso a outras quatro bases militares, além das cinco já presentes no país do sudeste asiático, fornecendo portos ideais para submarinos. As informações são da rede BBC.

O anúncio veio durante uma visita à nação insular do secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, onde ele esteve em agenda com o presidente filipino Ferdinand Marcos Jr, filho do ex-ditador Ferdinand Marcos, que reatou os laços com Washington ao assumir no lugar de Rodrigo Duterte, que era alinhado ao governo chinês.

A localização das bases não foi especificada. Porém, segundo fontes familiarizadas com o assunto, pelo menos uma estaria localizada na ilha de Luzon, ao norte. A região é tida como uma posição estratégica para operações militares de defesa de Taiwan em caso de um possível ataque de Beijing. Com isso, as Filipinas se consolidam como um parceiro estratégico fundamental para os EUA. 

“Não há contingência no Mar da China Meridional que não exija acesso às Filipinas”, disse Gregory Poling, diretor do programa do Sudeste Asiático no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais em Washington.

Tratado de Defesa Mútua: secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, cumprimenta o secretário de Relações Exteriores das Filipinas, Enrique Manalo (Foto: United States Government/Reprodução Twitter)

Pelo Twitter, Austin celebrou o acordo: “Os EUA continuam determinados a apoiar a paz e a prosperidade regional no Indo-Pacífico. Valorizamos profundamente nossa aliança de ferro e trabalho lado a lado com um aliado e amigo tão indispensável”.

O acordo norte-americano com seu mais antigo aliado na Ásia – EUA e Filipinas têm uma longa história de cooperação e ainda estão ligados por um tratado de defesa mútua assinado em 1951 – permitirá ao Pentágono estacionar soldados e equipamentos de guerra, além de construir suas próprias estruturas, alcançando pela primeira vez em 30 anos uma presença militar dessa magnitude.

“Os EUA não estão procurando bases permanentes. Trata-se de lugares, não de bases”, acrescentou Poling.

Com base na análise de Poling, os EUA estão buscando acesso a locais onde operações “leves e flexíveis” envolvendo suprimentos e vigilância possam ser executadas quando necessário, em vez de bases onde um grande número de soldados estará estacionado.

Entre os cinco países com quem Washington mantêm laços estreitos na Ásia, as Filipinas e o Japão são os que estão mais próximos de Taiwan, com a ilha de Itbayat, no extremo norte filipino, a apenas 150 quilômetros de distância.

Beijing reagiu mal ao acordo, dizendo que “as ações dos EUA aumentam a tensão regional e minam a paz e a estabilidade regionais”, disse sua embaixada em um comunicado, que acrescentou que Washington, “por seus próprios interesses e mentalidade de jogo de soma zero, continuam a intensificar a postura militar nesta região”.

Aliança de sete décadas

Em novembro, Kamala Harris, vice-presidente dos EUA, afirmou que seu país prestaria apoio militar às Filipinas em caso de um ataque da China, com quem Manila trava uma disputa histórica pelo controle das concorridas águas do Mar da China Meridional

Um tratado formalizado em 1951 obriga EUA e Filipinas a oferecer ajuda militar ao aliado, com envio de tropas, em caso de ataque a uma das duas nações por uma potência externa.

Por que isso importa?

Filipinas e China reivindicam grandes extensões do Mar da China Meridional, que é uma das regiões mais disputadas do mundo. Vietnã, Malásia, Brunei e Taiwan também estão inseridos na disputa pelos ricos recursos naturais da hidrovia.

A China é acusada de avançar sobre a jurisdição territorial dos demais países construindo ilhas artificiais e plataformas de vigilância, além de incentivar a saída de navios pesqueiros para além de seu território marítimo. O objetivo dessa política é aumentar de forma gradativa a soberania chinesa no Mar da China Meridional.

No caso específico da relação entre Beijing e Manila, um momento particularmente tenso ocorreu em março de 2022, quando um navio da guarda costeira chinesa realizou “manobras de curta distância” que quase resultaram em colisão com um navio filipino.

Na ocasião, Manila alegou que o navio chinês desrespeitou a conduta náutica quando navegava próximo à ilha Scarborough Shoal, que fica na Zona Econômica Exclusiva (ZEE) filipina, 124 milhas náuticas a noroeste do continente, e é alvo de disputa internacional.

Em resposta, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China Wang Wenbin disse à época que o país dele tem direitos soberanos sobre Scarborough Shoal. Entretanto, uma arbitragem internacional em Haia, em 2016, invalidou as reivindicações de Beijing sobre a hidrovia, pela qual passam anualmente cerca de US$ 3 trilhões em comércio marítimo.

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