Na última sexta-feira (26), um jato da força aérea chinesa interceptou um avião militar de vigilância dos EUA sobre o Mar da China Meridional, manobra perigosa registrada em vídeo pelos norte-americanos. Após o incidente, os dois governos trocaram acusações e aqueceram ainda mais um clima já bastante tenso, sobretudo na disputada região onde o episódio ocorreu. As informações são da agência Al Jazeera.
O vídeo divulgado por Washington na terça (30), que você pode ver abaixo, mostra que o pesado avião RC-135 da força aérea norte-americana chega a tremer devido à turbulência provocada pelo veloz caça chinês.
O Comando do Indo-Pacífico das forças armadas dos EUA disse em comunicado que o avião chinês realizou um “manobra desnecessariamente agressiva” ao voar “diretamente à frente e a 122 metros do nariz do RC-135, forçando a aeronave dos EUA a voar em meio à turbulência.”
Ainda de acordo com o texto, “o RC-135 estava conduzindo operações seguras e de rotina no Mar da China Meridional em espaço aéreo internacional, de acordo com a lei internacional.”
Beijing, que reivindica o controle de praticamente todo o Mar da China Meridional, não comprou a versão norte-americana. “Esse tipo de atividade provocativa e perigosa é a causa dos problemas de segurança nos mares. A China continuará a tomar todas as medidas necessárias para proteger resolutamente sua própria soberania e segurança”, disse a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores Mao Ning.
Segundo o governo norte-americano, interceptações perigosas realizadas pela força aérea chinesa tornaram-se habituais sobre o Mar da China Meridional, ações que “têm o potencial de criar um incidente inseguro ou um erro de cálculo.”
O episódio ocorre pouco depois de a China rejeitar um convite do secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, para um encontro com a contraparte chinesa em Singapura. O que levou o secretário de Estado Antony Blinken a ressaltar a importância de que sejam estabelecidas “linhas de comunicação regulares e abertas” entre os ministros de Defesa dos dois países.
Beijing, por sua vez, atribuiu o distanciamento aos norte-americanos. “Por um lado, os Estados Unidos continuam dizendo que querem fortalecer a comunicação”, disse o porta-voz do Ministério da Defesa chinês, Tan Kefei. “Mas, por outro lado, ignoram as preocupações da China e criam obstáculos artificialmente, minando seriamente a confiança mútua entre os militares.”
Por que isso importa?
Na última década, o Mar da China Meridional tem sido palco de inúmeras disputas territoriais entre a China e outros reclamantes do Sudeste Asiático, bem como de uma disputa geopolítica com os Estados Unidos quanto à liberdade de navegação nas águas contestadas.
Os chineses ampliaram suas reivindicações sobre praticamente todo o Mar da China Meridional e ali ergueram bases insulares em atóis de coral ao longo dos últimos dez anos. Washington deu sua resposta com o envio de navios de guerra à região, o que classifica como “missões de liberdade de operação”.
Embora os EUA não tenham reivindicações territoriais na área, há décadas o governo norte-americano tem enviado navios e aeronaves da Marinha para realizar patrulhas, com o objetivo de promover a navegação livre nas vias marítimas internacionais e no espaço aéreo.
Segundo o comandante dos EUA no Indo-Pacífico, almirante John C. Aquilino, a razão da presença de Washington na região é “prevenir a guerra por meio da dissuasão e promover a paz e a estabilidade, inclusive envolvendo aliados e parceiros americanos em projetos com esse objetivo”.
Já a atuação de Beijing, de acordo com o almirante, é preocupante. “Acho que nos últimos 20 anos testemunhamos o maior acúmulo militar desde a Segunda Guerra Mundial pela República Popular da China”, afirmou. “Eles avançaram todas as suas capacidades, e esse acúmulo de armamento está desestabilizando a região.”