O Departamento de Estado norte-americano se disse “enojado” com a notícia da apreensão do corpo do jornalista iraniano Reza Haghighatnejad pela Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC, na sigla em inglês) do Irã. Ele morreu em Berlim, na Alemanha, no dia 17 de outubro, de câncer. Os restos mortais haviam retornado ao Irã para que fossem enterrados em Shiraz, a cidade natal dele, quando foram reivindicados pelo governo local. As informações são da rede Radio Free Europe (RFE), onde o profissional trabalhava.
“Estamos enojados com os relatos de que a IRGC apreendeu os restos mortais de Reza enquanto eles eram repatriados para o Irã para serem enterrados em sua cidade natal de Shiraz”, disse um porta-voz do Departamento de Estado. “Pedimos às autoridades iranianas que liberem imediatamente os restos mortais de Reza para sua família e cessem sua cruel intimidação de jornalistas em toda parte”.
Segundo Washington, a ação de Teerã deixa claro o pavor do governo iraniano em relação aos jornalistas, capazes de expor os erros cometidos pelo regime “mesmo depois de mortos”. O porta-voz acrescentou: “Por todas as contas, ele foi um jornalista brilhante, dedicado à liberdade de expressão e à descoberta da verdade”.
A mãe do jornalista, Beygumjan Raeisi, revelou na quinta que o corpo do filho havia sido levado pelos agentes do governo iraniano. “Esta é a mensagem de uma mãe que não vê seu filho há seis anos e não sabia de sua doença. E, agora que seu corpo retornou ao Irã, foi sequestrado pelas autoridades no aeroporto”, disse ela em mensagem de vídeo.
Segundo amigos e familiares, não havia nenhum problema com a documentação para realizar o enterro. Fontes que preferem ter a identidade mantida em sigilo dizem que o governo vinha pressionando a família para que o enterro fosse realizado em outro local que não Shiraz.
Reza havia deixado o Irã justamente pela dificuldade de exercer o jornalismo no país, dada a perseguição estatal à mídia independente. “Ele era um proeminente analista e comentarista político da mídia de língua persa dentro e fora do Irã. Sua morte ocorreu quando a agitação abala o país pela morte de uma jovem enquanto estava sob custódia policial por supostamente usar um lenço na cabeça de forma inadequada”, disse a RFE, citando os protestos que se seguiram à morte de Mahsa Amini.