Evergrande cogita pagamentos escalonados e troca de dívida bilionária por ações

Parte da proposta aos credores internacionais da incorporadora é a possibilidade de trocar parte da dívida por participações em uma unidade de serviços imobiliários em Hong Kong ou na fabricante de veículos elétricos de propriedade da empresa

A Evergrande, gigante chinesa do mercado imobiliário, está considerando reembolsar cerca de US$ 19 bilhões devidos a detentores de títulos internacionais com parcelas em dinheiro e ações de duas de suas unidades sediadas em Hong Kong, disseram duas fontes. No ano passado, quando o setor de imóveis da China colapsou, a empresa deixou de pagar dívidas, tornando-se a incorporadora mais endividada do mundo, com déficit de US$ 300 bilhões. As informações são do site Business Standard.

A Evergrande garantiu aos investidores em março que os planos de reestruturação da dívida serão entregues até o final de julho deste ano. A empresa é considerada inadimplente depois de ter deixado de pagar US$ 22,7 bilhões em dívidas no exterior em dezembro de 2021. 

Conforme detalharam duas fontes ouvidas pela agência Reuters sob condição de anonimato, parte da proposta da incorporadora consiste em pagar aos credores internacionais o principal e os juros, transformando-os em novos títulos, a serem pagos em parcelas dentro de um prazo que vai de sete a 10 anos.

Prédio da China Evergrande Centre, em Hong Kong (Foto: WikiCommons)

Outra alternativa dada aos credores internacionais é a possibilidade de trocar parte da dívida por participações na unidade de serviços imobiliários Evergrande Property Services Group e na fabricante de veículos elétricos China Evergrande New Energy Vehicle Group.

Até 20% da dívida internacional poderá ser trocada por ações dessas duas unidades, detalhou uma das fontes. “As propostas de reestruturação estão, no entanto, numa fase inicial e estão sujeitas a alterações”, acrescentou o informante.

Evergrande se tornou um símbolo das dificuldades enfrentadas pela economia da China e seu outrora próspero setor imobiliário. Depois de expandir e tomar empréstimos a uma velocidade vertiginosa, a incorporadora alega que tem lutado para juntar o dinheiro que precisa para honrar dívidas em atraso, empréstimos pendentes e salários atrasados ​​para os trabalhadores que construíram inúmeros de seus imóveis em todo o país.

“O presidente [da Evergrande] Hui Ka Yan espera que os detentores de títulos aceitem a proposta, pois não há muitos ativos no exterior que possam ser vendidos imediatamente para pagar as dívidas”, disse a fonte.

A reorganização da Evergrande, que espera-se ser a maior já feita no país asiático, é tida como um momento decisivo na história do mercado de títulos em dólar no continente. Porém, não está claro como a incorporadora será capaz de garantir dinheiro suficiente para implementar o plano de pagamento em dinheiro. O cenário não é muito otimista, já que em 2021 a empresa registrou queda nas vendas de 39% em relação ao ano anterior.

A desconfiança pode ser ilustrada por dois detentores de títulos internacionais da Evergrande, que disseram que provavelmente irão optar pela a opção de troca de dívida por capital, já que não têm grandes esperanças de que a empresa seja capaz de fazer o pagamento total em dinheiro.

Recentemente, o consultor de investimentos David Stein disse no podcast ‘We Study Billionaires’ (“Nós estudamos bilionários”, em tradução literal), da rede The Investor’s Podcast Network, que a Evergrande está está à beira de um “colapso brutal”.

Por que isso importa?

Foi o endividamento da Evergrande que chamou a atenção para a crise imobiliária chinesa, símbolo das dificuldades enfrentadas pela economia local e seu outrora próspero setor. Depois de expandir e tomar empréstimos a uma velocidade vertiginosa, a incorporadora alega que tem lutado para juntar o dinheiro que precisa para honrar dívidas em atraso, empréstimos pendentes e salários atrasados.

Hui Ka Yan, fundador e presidente da companhia e que encabeça a lista de bilionários devedores do setor imobiliário chinês, já perdeu pagamentos de cerca de US$ 20 bilhões em títulos internacionais e ainda não ofereceu um plano de reestruturação viável para a empresa. Ele tentou restaurar a confiança no seu negócio em fevereiro, ao descartar a venda de ativos, alegando que a empresa concluiria metade de seus projetos restantes no decorrer de 2022.

No dia 21 de março, a Evergrande teve suspensa a negociação de suas ações na bolsa de Hong Kong e foi avisada de que precisa informar as autoridades locais sobre como será executada a reestruturação da companhia. No dia seguinte ao anúncio, a gigante chinesa teve cerca de US$ 2,1 bilhões em dinheiro apreendidos por bancos para o pagamento de credores.

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