Evergrande está à beira de um ‘colapso brutal’, diz consultor financeiro

Para David Stein, crise imobiliária na China também tem relação a um momento de baixa natalidade

A Evergrande tem mais problemas do que nunca e está longe de se recuperar. É o que diz o consultor de investimentos David Stein sobre a gigante chinesa do setor imobiliário, hoje conhecida como “a incorporadora mais endividada do mundo”, com um déficit de US$ 300 bilhões. As informações são do site Asian Markets.

Durante participação no podcast ‘We Study Billionaires’ (“Nós estudamos bilionários”, em tradução literal), da rede The Investor’s Podcast Network, Stein disse estar “preocupado” com os recentes atrasos na divulgação das demonstrações financeiras da Evergrande, bem como com os desafios legais que os credores, que levaram calote, enfrentarão.

A reorganização da incorporadora, que espera-se ser a maior já feita no país asiático, é tida como um momento decisivo na história do mercado de títulos em dólar no continente. A empresa tomou emprestado mais de US$ 20 bilhões em títulos denominados em dólares de seus mais de US$ 300 bilhões em passivos. Mas entregou poucas informações detalhadas enquanto as autoridades chinesas trabalham para limitar o impacto do colapso da empresa.

Edifícios residenciais desenvolvidos pela Evergrande em Yuanyang, na China, março de 2021 (Foto: Wikimedia Commons)

O programa fez menção à opinião de alguns especialistas do setor, que apontaram sinais de que a Evergrande havia evitado uma catástrofe financeira. Perguntado se isso poderia ser um indício de que a empresa estaria “fora de perigo”, Stein foi taxativo: “Eles estão ainda mais em perigo. É uma empresa altamente endividada”, disse.

Ele observou que a China deu às empresas a oportunidade de processar a Evergrande na Justiça para cobrar. “Então, se você é um credor da Evergrande, está ‘suando’ para receber algum dinheiro de volta”.

À beira do precipício

George Calhoun, um especialista em finanças quantitativas, corrobora a visão de Stein. E prevê “tempos sombrios” para todo o mercado imobiliário chinês.

Ao comentar sobre o caso da Sunac China Holdings, uma das maiores incorporadoras da Ásia que neste mês deixou de pagar os juros referentes a títulos offshore de US$ 750 milhões, Calhoun fez uma previsão nada otimista. “O mercado imobiliário chinês está finalmente entrando em colapso, e este será brutal”, disse.

Crise demográfica

A política do filho único foi introduzida em 1979 pelo Partido Comunista Chinês (PCC), com o governo temerário quanto a um rápido aumento da população após o baby boom das décadas de 1950 e 1960. Desde então, a taxa de fertilidade do país caiu drasticamente: de um pico de quase seis nascimentos para cada mulher, entre 1960 e 1965, para 1,5, entre 1995 e 2014.

De acordo com Stein, hoje a China encara uma grande crise demográfica, devido à qual alguns especialistas preveem que a população possa ser reduzida pela metade até o final do século 21.

“A China sempre foi essa história de enorme crescimento, o que é fascinante. E sim, há muitas pessoas que vivem no país, mas a população não está crescendo e representa menos de três por cento do mercado de ações global. Um número menor do que o Reino Unido”, compara.

A falta de otimismo do consultor com a nação asiática em meio a uma crise imobiliária, segundo ele, deve-se aos “ventos demográficos contrários”. Para Stein, há outras áreas do mundo onde a população em idade ativa está crescendo. E a bola da vez seria a Índia.

“A Índia, por exemplo, tem uma demografia muito mais favorável do que a China”, observou.

Por que isso importa?

Foi o endividamento da Evergrande que chamou a atenção para a crise imobiliária chinesa, símbolo das dificuldades enfrentadas pela economia local e seu outrora próspero setor. Depois de expandir e tomar empréstimos a uma velocidade vertiginosa, a incorporadora alega que tem lutado para juntar o dinheiro que precisa para honrar dívidas em atraso, empréstimos pendentes e salários atrasados.

Hui Ka Yan, fundador e presidente da companhia e que encabeça a lista de bilionários devedores do setor imobiliário chinês, já perdeu pagamentos de cerca de US$ 20 bilhões em títulos internacionais e ainda não ofereceu um plano de reestruturação viável para a empresa. Ele tentou restaurar a confiança no seu negócio em fevereiro, ao descartar a venda de ativos, alegando que a empresa concluiria metade de seus projetos restantes no decorrer de 2022.

No dia 21 de março, a Evergrande teve suspensa a negociação de suas ações na bolsa de Hong Kong e foi avisada de que precisa informar as autoridades locais sobre como será executada a reestruturação da companhia. No dia seguinte ao anúncio, a gigante chinesa teve cerca de US$ 2,1 bilhões em dinheiro apreendidos por bancos para o pagamento de credores.

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