Incorporadora chinesa admite calote nos juros de títulos de US$ 750 milhões

Episódio envolvendo a Sunac China Holdings agrava a onda de inadimplência no setor imobiliário do país

A Sunac China Holdings, uma das maiores incorporadoras da Ásia, admitiu na quinta-feira (11) que deixou de pagar os juros referentes títulos offshore de US$ 750 milhões. O episódio aumenta a onda de inadimplência no setor imobiliário na China. As informações são do site de negócios Asia Financial.

A Sunac, reconhecida como a terceira maior construtora chinesa em vendas, tinha que pagar US$ 29,5 milhões em juros sobre o título de outubro de 2023 que vence em abril, sob o risco de entrar em default (termo do meio econômico que define não cumprimento de uma cláusula de um contrato de empréstimo por parte do devedor).

A agência Reuters ouviu uma fonte próxima à empresa, que revelou que a Sunac considera uma reestruturação de sua dívida offshore para estender os pagamentos. Diante do quadro, a incorporadora também estaria mantendo diálogo com entidades estatais sobre investimentos.

Setor imobiliário enfrenta crise na China (Foto: WikiCommons)

O calote da empresa, que tem foco em empreendimentos imobiliários de grande porte, de médio e alto padrão, poderia desencadear cláusulas de inadimplência cruzada em todos os US$ 7,7 bilhões em títulos do desenvolvedor nos mercados de capitais internacionais. Sem falar na possibilidade de agravar a sensação de pânico consequente da crise imobiliária da China.

“O grupo pede aos credores que deem tempo ao grupo para superar os desafios na fase atual”, disse o presidente da Sunac, Sun Hongbin, em comunicado à Bolsa de Valores de Hong Kong.

Hongbin atribuiu os problemas da Sunac a “mudanças dramáticas no macroambiente do setor imobiliário na China” em 2021. Entre os adversidades listadas, queda nas vendas e acesso restrito a financiamentos, situação que teve piora por conta dos bloqueios sanitários da pandemia de coronavírus.

“O grupo gostaria de expressar sinceras desculpas por não conseguir cumprir suas obrigações de dívida conforme programado”, concluiu.

A Sunac viu o tempo fechar sobre si num curto período. Até o ano passado, inúmeros investidores tinham a empresa como uma das principais incorporadoras da China. Porém, o vento soprou contra a empresa quando uma liquidação de títulos imobiliários chineses e a atenuação da confiança dos compradores de imóveis resultaram em um deslocamento prolongado do mercado e subsequente queda na indústria, colocando em perigo muitos negócios do ramo que levantaram bilhões com a venda de títulos em dólar, segundo o portal Terra.

Executivos de outras incorporadoras já deram o alerta: se a incorporadora entrar em default, há grande risco de isso comprometer ainda mais a já magra confiança dos compradores de imóveis na China.

A Sunac disse nesta quinta-feira (12) que contratou o banco de investimentos Houlihan Lokey e o escritório de advocacia Sidley Austin para dar aconselhamento quanto a soluções para os problemas de liquidez.

O setor imobiliário da China foi atingido por uma série de inadimplências de títulos offshore, com destaque para Evergrande, a incorporadora imobiliária mais endividada do mundo, com um déficit de US$ 300 bilhões.

Por que isso importa?

Além da inadimplência no setor imobiliário, a China sofre também com uma crise energética, decorrente do aumento do preço das fontes de energia globais, da escassez de carvão no país e das consequentes interrupções da produção em diversas fabricas. “A restrição de produção e a escassez de energia provavelmente continuarão pesando no crescimento do quarto trimestre”, disse recentemente uma projeção feita pelos economistas do banco suíço UBS.

Uma junção de fatores colocou a China nessa situação. Primeiro, a pressão do governo para reduzir as emissões de gases do efeito estufa, com vistas à meta de atingir a neutralidade de emissões até 2060. Num país que tem quase 60% da economia dependente do carvão, a solução foi impor racionamento de energia em residências e na indústria, a fim de manter sob controle as emissões provenientes da queima de carvão.

Paralelamente, as chuvas torrenciais que atingiram o país recentemente causaram inundações na província de Xanxim, de onde sai cerca de 30% de todo o carvão consumido no país. Como resultado, o preço do produto disparou, e o governo agora se vê numa encruzilhada, forçado a suspender os limites de produção de carvão existentes por razões ambientais.

Na indústria, as grandes vítimas do racionamento são os setores que demandam mais energia elétrica, como a produção de cimento e as fundições de alumínio e aço, segundo a rede britânica BBC. Num caso extremo, uma fábrica têxtil da província de Jiangsu cortou totalmente a energia num período entre setembro e outubro. Com isso, cerca de 500 trabalhadores tiveram que deixar seus postos e receberam um mês de folga remunerada.

Diferente da crise imobiliária, a energética pode, sim, gerar reflexos relevantes para a economia mundial. Isso porque a cadeia de produção global se habituou com os baixos preços dos produtos oferecidos pela China. Se a escassez de energia levar a uma queda brusca de produção na indústria chinesa, o fornecimento diminuiria e teríamos uma tendência de aumento de preços, com impacto inflacionário relevante no mundo todo.

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