Flotilha chinesa se dirige ao Pacífico e coloca forças do Japão e Taiwan em alerta

Segundo mídia estatal da China, flotilha composta por oito navios é o maior grupo de porta-aviões Liaoning em exercícios recentes

Forças japonesas e taiwanesas ligaram o alerta após uma flotilha da Marinha do Exército de Libertação Popular (ELP), liderada pelo porta-aviões Liaoning, ser vista entrando no Mar da China Oriental através do Estreito de Miyako, na segunda-feira (2). As informações são da rede Radio Free Asia.

De acordo com comunicado do Gabinete do Estado-Maior Conjunto das Forças de Autodefesa do Japão, o Liaoning, que navegava acompanhado de sete destróieres e navios de abastecimento, passou entre as ilhas de Okinawa e Miyako antes de entrar no Pacífico Ocidental.

Diante do alerta, o Ministério da Defesa japonês enviou ao local o porta-aviões leve Izumo, além de aeronaves de patrulha marítima P-1 e aeronaves antissubmarino P-3C. Segundo o órgão governamental, a ação militar teve o objetivo de “monitorar as atividades dos navios chineses”.

Porta-aviões chinês Liaoning (Foto: WikiCommons)

No dia seguinte, o porta-voz do exército taiwanês, Sun Li-fang, declarou à imprensa local que as forças nacionais monitoram de perto manobras militares chinesas nas águas e no espaço aéreo no entorno da ilha semiautônoma e que tomaria “medidas de resposta apropriadas”.

Em comunicado de imprensa, Beijing relatou que enviou o seu porta-aviões para realizar treinamento de combate realista no mar do Pacífico Ocidental, disse o capitão Gao Xiucheng, porta-voz da Marinha do ELP na terça-feira (3).

Capacidade de combate ampliada

Segundo o jornal estatal chinês Global Times, o grupo de porta-aviões é o maior a se dirigir ao mar distante em viagens recentes, “marcando um aumento significativo na capacidade de combate em preparação para missões que incluem um potencial conflito militar no Estreito de Taiwan“, disseram especialistas ao veículo estatal.

Os militares japoneses fizeram registros fotográficos do Liaoning, e relataram que o porta-aviões chinês carregava vários caças J-15, bem como helicópteros Z-8 e Z-9. Foi a primeira vez que a frotilha passou pela chamada “First Island Chain” – primeira cadeia de arquipélagos principais fora da costa continental do Leste Asiático, que inclui Taiwan e Japão – para entrar no Oceano Pacífico.

O Liaoning faz patrulhas regulares no Estreito de Taiwan, podendo ser utilizado em caso de conflito armado com a ilha semiautônoma.

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para os chineses. Nações estrangeiras que tratem a ilha como autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio defendido de “Uma Só China“, que também encara Hong Kong como parte do território chinês. Diante da aproximação entre Taipé e Washington, desde 2020 a China endureceu a retórica contra as reivindicações de independência da ilha.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos países do mundo, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal fornecedor de armas do território, o que causa imenso desgosto a Beijing, que tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação.

Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que a China não aceitará a independência do território “sem uma guerra“.

embate, porém, pode não terminar em confronto militar, e sim em um bloqueio total da ilha. É o que apontaram relatórios produzidos pelos EUA e por Taiwan em junho de 2021. O documento taiwanês pontua que Beijing não teria capacidade de lançar uma invasão em grande escala, justamente por se tratar de uma ilha. Já segundo o Pentágono, isso “provavelmente sobrecarregaria as forças armadas chinesas”.

Caso ocorresse, a escalada militar criaria um “risco político e militar significativo” para Beijing. Ainda assim, ambos os relatórios reconhecem que a China é capaz de bloquear Taiwan com cortes dos tráfegos aéreo e naval e das redes de informação. O bloqueio sufocaria a ilha, criando uma reação internacional semelhante àquela que seria causada por uma eventual ação militar.

Em artigo publicado em novembro, Michael Beckley e Hal Brands alertaram que o tempo está se esgotando para frear o ímpeto belicista chinês. “Os sinais de alerta históricos da China já estão piscando em vermelho. Na verdade, ter uma visão de longo prazo de por que e sob quais circunstâncias a China luta é a chave para entender o quão curto o tempo se tornou para os Estados Unidos e os outros países no caminho de Beijing”.

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