Frequente, roubo de segredos industriais pela China impacta na segurança nacional dos EUA

Casos destacam a extensão da espionagem industrial de Beijing e o potencial impacto dessas atividades na segurança nacional e nas indústrias de aviação e aeroespacial. Brasil está no mapa

Nos bastidores da crescente rivalidade geopolítica entre os Estados Unidos e a China, episódios de espionagem industrial são rotineiros. Recentemente, uma série de casos envolvendo agentes a serviço de Beijing foram expostos, revelando uma intricada trama de conluios e extração de informações sigilosas. Além do impacto no setor comercial, tais atividades podem ter implicações na segurança nacional e estratégias de defesa.

A Referência buscou alguns desses casos, revelando os desafios da era digital e da geopolítica acirrada. Os episódios chamam a atenção para a extensão da espionagem industrial chinesa e seu potencial impacto nas indústrias de aviação e aeroespacial, com implicações diretas na segurança militar.

Em janeiro de 2023, Zheng Xiaoqing, um ex-funcionário do conglomerado de energia General Electric Power, foi condenado a dois anos de prisão por roubar arquivos confidenciais relacionados ao projeto e fabricação de turbinas a gás e vapor, segundo a rede BBC. Esses arquivos incluíam detalhes sobre pás e vedações de turbinas. As informações, avaliadas em milhões, foram enviadas para um cúmplice na China, com o propósito de beneficiar o governo chinês, além de empresas e universidades locais.

Rotor de turbina a vapor: China está de olho nas indústrias ocidentais (Foto: WikiCommons)

Em novembro de 2022, Xu Yanjun, acusado de ser um espião profissional, foi condenado a 20 anos de prisão por conspiração. Ele foi considerado culpado de roubar segredos comerciais de diversas empresas do setor de aviação e aeroespacial dos Estados Unidos, incluindo a GE1.

Em março de 2017, um funcionário norte-americano da GE Aviation, fabricante de motores para companhias aéreas comerciais e militares, foi abordado por um indivíduo ligado à Universidade de Aeronáutica e Astronomia de Nanquim, na China. Durante uma viagem ao país, o funcionário ministrou uma palestra sobre um novo material em desenvolvimento pela GE para motores. Durante a visita, ele conheceu Xu, que se apresentou como Qu Hui, alegando trabalhar em uma organização dedicada à promoção de ciência e tecnologia.

O roubo de segredos comerciais é atrativo porque permite que os países avancem rapidamente nas cadeias globais de valor, sem os custos de desenvolvimento. Christopher Wray, diretor do FBI, a polícia federal dos EUA, alertou em 2022 que a China buscava “saquear” propriedade intelectual para acelerar seu próprio desenvolvimento industrial. Ele afirmou que empresas de todos os portes e setores estão sendo alvo, incluindo aviação e inteligência artificial.

À época, o Ministério das Relações Exteriores da China rejeitou as acusações de Wray, classificando-as como “difamação e remanescentes da Guerra Fria“.

Os setores atingidos

A China tem sido acusada de cometer roubo de segredos industriais em uma variedade de setores-chave, incluindo:

Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC): Isso inclui roubo de tecnologia relacionada a software, hardware, telecomunicações e segurança cibernética.

Indústria automotiva: O roubo de segredos industriais neste setor inclui informações sobre design de veículos, tecnologia de motores e sistemas de propulsão.

Setor aeroespacial e de aviação: A China busca informações sobre design de aeronaves, tecnologia de motores, sistemas de navegação e materiais aeroespaciais.

Indústria farmacêutica e de saúde: Envolve pesquisa e desenvolvimento de medicamentos, informações sobre ensaios clínicos e propriedade intelectual relacionada a produtos farmacêuticos.

Energia e energia renovável: Busca por informações sobre tecnologias de geração de energia, armazenamento de energia e energia renovável, como solar e eólica.

Setor de defesa e segurança: Neste setor, Beijing busca informações sobre tecnologia militar, sistemas de armas, comunicações seguras e defesa cibernética.

Escala “sem precedentes”

Em outubro do ano passado, durante encontro realizado no Vale do Silício, no estado norte-americano da Califórnia, os chefes de inteligência dos EUAReino UnidoCanadáAustrália e Nova Zelândia acusaram a China de roubo de propriedade intelectual em uma escala sem precedentes, mostrou reportagem da rede Voice of America (VOA).

Mike Burgess, diretor-geral da ASIO, o serviço de inteligência da Austrália, afirmou que o comportamento da China vai além da espionagem tradicional, envolvendo o governo chinês em “roubo sustentado e sofisticado de propriedade intelectual”. Ele destacou que a espionagem econômica chinesa foi aprovada pelo governo ao longo de muitos anos, representando “uma ameaça sem precedentes”.

Burgess ainda observou que “todas as nações espionam”, mas expressou preocupação com a estratégia atual do governo chinês. Ele destacou que Beijing está envolvida em um nível alarmante de roubo de propriedade intelectual em termos de escala e sofisticação.

Wray, também presente, afirmou aos membros da aliança Five Eyes, uma rede de compartilhamento de inteligência composta por essas cinco nações, que o governo chinês representa a maior ameaça à inovação global, que, pela sua gravidade, foi comparada aos ataques de 11 de setembro.

Brasil no mapa

Autoridades dos Estados Unidos avaliam que o Brasil pode ser um cenário para o roubo de segredos industriais, devido à presença de empresas americanas e chinesas com operações no país. No entanto, há pouca coordenação entre as forças de segurança e as empresas brasileiras, disse sob condição de anonimato um representante do governo americano disse ao jornal Folha de S.Paulo. Embora o Brasil tenha regras para prevenir o problema, estas não são aplicadas efetivamente.

Em março de 2023, o Consulado dos EUA em São Paulo promoveu um evento para discutir formas de proteção, convidando agentes de segurança e empresários do Brasil e de outros países da região. Durante o encontro, as empresas foram aconselhadas a colaborar mais estreitamente com as autoridades de segurança para prevenir e investigar casos de roubo de segredos industriais.

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