Bolsa de Hong Kong suspende negociação de ações da gigante chinesa Evergrande

Investidores agora aguardam anúncio de empresa sobre como será a sua reestruturação

Conhecida como a incorporadora imobiliária mais endividada do mundo, com um déficit de US$ 300 bilhões, a chinesa Evergrande teve suspensa a negociação de suas ações na bolsa de Hong Kong na segunda-feira (21). A empresa agora deve informar às autoridades locais sobre como sua reestruturação e o destino de investidores internacionais serão executados, segundo informações do jornal Financial Times.

A gigante do setor imobiliário deixa a Bolsa de Valores de Hong Kong com suas ações sendo negociadas a US$ 1,65, num momento em que vinha registrando crescimento de 3,8% no acumulado do ano. Mas, mesmo que o preço por ação mantenha uma tendência de alta em 2022, não será suficiente para compensar o colapso de quase 90% registrado em 2021.

Além da Evergrande, tiveram suspensas as transações antes da abertura do pregão desta semana as unidades China Evergrande New Energy Vehicle Group e Evergrande Property Services Group, de acordo com comunicado da bolsa.

Edifícios residenciais desenvolvidos pela Evergrande em Yuanyang, na China, março de 2021 (Foto: Wikimedia Commons)

Em declaração à bolsa de Hong Kong, a Evergrande disse que a suspensão das negociações estava pendente da divulgação de informações, mas não forneceu mais detalhes.

Não é a primeira vez que a empresa teve sua listagem suspensa na bolsa. A ocasião mais recente havia sido em janeiro, sem explicações. Paralelamente ao anúncio, a mídia chinesa noticiou a ordem de demolição de 39 prédios em uma gigantesca ilha de resort artificial em dez dias, sob a justificativa de que o projeto violava “leis de planejamento urbanas e rurais”, além de irregularidades em licenças de construção e impactos ambientais à biodiversidade no Mar da China Meridional.

O endividamento da empresa, que tem dado calote em seus credores e chamou a atenção para a crise imobiliária chinesa, se tornou um símbolo das dificuldades enfrentadas pela economia local e seu outrora próspero setor. Depois de expandir e tomar empréstimos a uma velocidade vertiginosa, a incorporadora alega que tem lutado para juntar o dinheiro que precisa para honrar dívidas em atraso, empréstimos pendentes e salários atrasados ​​para os trabalhadores que construíram inúmeros de seus imóveis em toda a China.

A reorganização da incorporadora, que espera-se ser a maior já feita no país asiático, é tida como um momento decisivo na história do mercado de títulos em dólar no continente. A empresa tomou emprestado mais de US$ 20 bilhões em títulos denominados em dólares de seus mais de US$ 300 bilhões em passivos. Mas entregou poucas informações detalhadas enquanto as autoridades chinesas trabalham para limitar o impacto do colapso da empresa.

Hui Ka Yan, fundador e presidente da Evergrande – e que encabeça uma lista de bilionários devedores do setor imobiliário no país –, já perdeu pagamentos de quase US$ 20 bilhões em títulos internacionais e ainda não ofereceu um plano de reestruturação viável para a empresa. Ele tentou restaurar a confiança no seu negócio e no mês passado descartou a venda de ativos, alegando que a empresa concluiria metade de seus projetos restantes no decorrer de 2022.

Antes da suspensão da cotação, a Evergrande vinha mantendo negociações com os credores do Hengda Real Estate Group, a segunda maior empresa imobiliária da China em vendas, com o objetivo de acordar um adiamento até setembro do pagamento de juros relativos à dívida da subsidiária, que está na casa de cerca de 630 milhões de dólares.

Por que isso importa?

Além da inadimplência no setor imobiliário, a China sofre também com uma crise energética, decorrente do aumento do preço das fontes de energia globais, da escassez de carvão no país e das consequentes interrupções da produção em diversas fabricas. “A restrição de produção e a escassez de energia provavelmente continuarão pesando no crescimento do quarto trimestre”, disse recentemente uma projeção feita pelos economistas do banco suíço UBS.

Uma junção de fatores colocou a China nessa situação. Primeiro, a pressão do governo para reduzir as emissões de gases do efeito estufa, com vistas à meta de atingir a neutralidade de emissões até 2060. Num país que tem quase 60% da economia dependente do carvão, a solução foi impor racionamento de energia em residências e na indústria, a fim de manter sob controle as emissões provenientes da queima de carvão.

Paralelamente, as chuvas torrenciais que atingiram o país recentemente causaram inundações na província de Xanxim, de onde sai cerca de 30% de todo o carvão consumido no país. Como resultado, o preço do produto disparou, e o governo agora se vê numa encruzilhada, forçado a suspender os limites de produção de carvão existentes por razões ambientais.

Na indústria, as grandes vítimas do racionamento são os setores que demandam mais energia elétrica, como a produção de cimento e as fundições de alumínio e aço, segundo a rede britânica BBC. Num caso extremo, uma fábrica têxtil da província de Jiangsu cortou totalmente a energia num período entre setembro e outubro. Com isso, cerca de 500 trabalhadores tiveram que deixar seus postos e receberam um mês de folga remunerada.

Diferente da crise imobiliária, a energética pode, sim, gerar reflexos relevantes para a economia mundial. Isso porque a cadeia de produção global se habituou com os baixos preços dos produtos oferecidos pela China. Se a escassez de energia levar a uma queda brusca de produção na indústria chinesa, o fornecimento diminuiria e teríamos uma tendência de aumento de preços, com impacto inflacionário relevante no mundo todo.

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