Itália anuncia saída e deixa a Nova Rota da Seda sem nenhum representante do G7

Presença do país europeu emprestou prestígio diplomático à iniciativa chinesa, mas parceria chegou ao fim depois de quatro anos

Ao comunicar formalmente sua decisão a Beijing, a Itália oficializou nesta quarta-feira (6) sua saída da Nova Rota da Seda (em inglês Belt and Road Initiative, ou BRI), iniciativa de infraestrutura voltada a espalhar a influência da China por todo o mundo liderada pelo presidente Xi Jinping. O anúncio põe fim a meses de especulação sobre o rompimento da relação, que desde o início gerou desconforto entre os aliados ocidentais de Roma. As informações são do jornal Financial Times.

A decisão, revelada por um alto funcionário italiano, que falou sob condição de anonimato, foi tomada três meses após a primeira-ministra Giorgia Meloni, líder do partido Irmãos da Itália, que antes considerava a participação italiana na iniciativa como um “erro”, confirmar publicamente a avaliação de retirada, reafirmando, ao mesmo tempo, o compromisso de manter relações “mutuamente benéficas” com o governo chinês.

A Itália comprometeu-se a aderir à Nova Rota da Seda em 2019, tornando-se a maior economia e o único país do G7 a assinar a iniciativa, envolvimento que emprestou prestígio diplomático ao acordo. No entanto, desde então, as importações italianas provenientes da China quase dobraram, enquanto as exportações do país europeu para o asiático tiveram um aumento pouco expressivo.

A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, durante encontro o presidente chinês Xi Jinping em Bali, no ano passado (Foto: Minister of Foreign Affairs of the People’s Republic of China/Divulgação)

Em 2022, as exportações da Itália para a China atingiram 16,4 bilhões de euros, em comparação com 13 bilhões de euros em 2019. Por outro lado, as exportações da China para a Itália aumentaram de 31,7 bilhões de euros em 2019 para 57,5 bilhões de euros em 2022, de acordo com informações divulgadas pela Reuters, com base em dados do observatório econômico da Itália.

Stefano Stefanini, ex-embaixador da Itália na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), destacou que a continuidade da participação italiana na iniciativa se tornou insustentável também pela deterioração das relações entre Beijing, de um lado, e Washington e a União Europeia (UE), de outro, além dos esforços ocidentais para reduzir a dependência da China, especialmente em áreas estratégicas.

Diplomacia e críticas

O governo italiano buscava sair do acordo de maneira diplomática, para evitar retaliações de Beijing, que tem na BRI a pedra angular da estratégia econômica de longo prazo de Xi, um projeto global desenvolvido para aumentar a influência econômica chinesa por meio de projetos conjuntos de infraestrutura e comércio. 

Antes da decisão ser tomada, o ministro das Relações Exteriores, Antonio Tajani, teve conversas neste ano em Beijing, e a primeira-ministra se encontrou com o homólogo chinês Li Qiang, durante a cúpula do G20 em Nova Délhi, em setembro. Essas ações faziam parte dos esforços para encontrar uma solução amigável ao desligamento do acordo.

Michele Geraci, ex-subsecretário do Ministério do Desenvolvimento Econômico da Itália em 2019 e defensor da adesão italiana à BRI, criticou fortemente a decisão do governo Meloni de sair. Ele afirmou que isso prejudicará as empresas italianas que “dependem da proteção governamental” para fazer negócios globalmente, temendo impactos negativos nas exportações e uma reação intensa dos consumidores chineses, especialmente em relação aos produtos de luxo italianos.

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