Xi Jinping não participará da cúpula do G20 na Índia devido à tensão nas relações bilaterais

Devido ao momento de turbulência entre Beijing e Nova Délhi, principalmente devido a disputas na fronteira, o primeiro-ministro Li Qiang representará a China

O presidente chinês, Xi Jinping, não participará da cúpula do G20 na Índia devido à tensão contínua nas relações bilaterais. Em seu lugar, o primeiro-ministro Li Qiang representará o gigante asiático no evento que ocorre entre 9 e 10 de setembro, conforme anunciado pelo Ministério das Relações Exteriores em um comunicado em seu site. As informações são da agência Associated Press.

O mal-estar entre Beijing e Nova Délhi tem se intensificado, especialmente devido a disputas na fronteira. Há três anos, um confronto na região de Ladakh resultou nas mortes de 20 soldados indianos e quatro chineses. O confronto envolveu basicamente paus e pedras, sem nenhum tiro ter sido disparado, e levou a um impasse prolongado na região montanhosa, onde ambos os lados estacionaram grandes contingentes militares, incluindo artilharia, tanques e caças.

A questão territorial é a mais sensível na relação entre os vizinhos. Na semana passada, a Índia expressou seu descontentamento com a China por conta da divulgação de um novo mapa chinês, que retira de Nova Délhi regiões que ela afirma serem parte de seu território. No mapa, Beijing considera o Estado indiano de Arunachal Pradesh e o planalto de Aksai Chin como parte do território chinês.

O episódio foi o mais recente de uma série de desentendimentos entre as nações asiáticas em relação à delimitação de suas fronteiras comuns na chamada Linha de Controle Atual (LAC, na sigla em inglês). 

O primeiro-ministro Li Qiang durante coletiva de imprensa após o encerramento da primeira sessão da 14ª Assembleia Popular Nacional, em março de 2023 (Foto: WikiCommons)

Além disso, as fricções cresceram no âmbito comercial e devido aos laços estratégicos em expansão entre a Índia e os Estados Unidos, principal rival da China. Ambos os países também expulsaram jornalistas do outro lado, agravando ainda mais a atmosfera turbulenta.

De quebra, a Índia recentemente superou a China como a nação mais populosa do mundo, e Beijing vê com preocupação seu baixo crescimento populacional e o consequente envelhecimento da população. Os dois países ainda são rivais em áreas como tecnologia, exploração espacial e comércio global.

Quando questionado sobre a ausência de Xi na cúpula, Mao Ning, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, optou por não dar uma resposta direta.

Ele declarou aos jornalistas durante uma coletiva de imprensa que o “G20 é um fórum crucial para a cooperação econômica internacional”, que “a China sempre atribui grande importância a ele e participa ativamente de suas atividades”.

Ning revelou que Li Qiang é quem levará as opiniões e propostas de Beijing sobre a cooperação no G20, “promovendo a solidariedade e a cooperação entre os membros para enfrentar os desafios econômicos e de desenvolvimento globais.”

Ela enfatizou que a China está pronta para colaborar com todas as partes “para alcançar o sucesso da cúpula do G20” e fazer contribuições positivas para a estabilidade econômica global e o desenvolvimento sustentável.

Encontro Xi e Biden

Além de potencialmente afetar as relações entre a China e a Índia, a ausência de Xi na cúpula também elimina a oportunidade de uma interação com o presidente Joe Biden. As relações entre Beijing e Washington estão atualmente em um nível historicamente baixo, apesar das recentes visitas do Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, e outras autoridades a Beijing.

Havia especulações nos últimos dias sobre a não participação de Xi, e antes mesmo do anúncio oficial da China, Biden disse aos repórteres no domingo que não esperava se encontrar com o líder chinês.

“Estou desapontado, mas vou encontrá-lo”, disse o chefe da Casa Branca.

Agora não está claro quando uma reunião entre eles poderá ocorrer, já que há incertezas sobre a participação de Xi na reunião de líderes do Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico, prevista para novembro em São Francisco, nos EUA.

Por que isso importa?

disputa pela fronteira entre China e Índia começou em 1962, em meio à guerra entre os dois países. No final dos anos 80, o então primeiro-ministro indiano Rajiv Gandhi buscou reestabelecer os laços com Beijing.

As tensões voltaram a aumentar após medidas tomadas pelas autoridades indianas, como o apoio às demandas por autonomia do Tibete, a crescente cooperação de defesa com EUA, Japão e Austrália, e restrições de investimentos chineses na Índia.

A relação atingiu seu pior momento em  abril de 2020, quando soldados rivais se envolveram em combates em vários pontos da área montanhosa que divide os dois países. O problema começou com uma troca de acusações sobre desrespeito à Linha de Controle Real.

Então, em 15 de junho de 2020, a paz foi definitivamente quebrada e houve confronto entre soldados indianos e chineses em Ladakh. Na ocasião, 20 soldados indianos e quatro chineses morreram em combates corporais entre as tropas das duas nações. O confronto envolveu basicamente paus e pedras, sem nenhum tiro ter sido disparado.

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