Manobras militares conjuntas ‘aprofundam ainda mais a parceria estratégica’ entre China e Rússia

Até meados de julho, Forças Armadas dos dois países realizam um grande exercício nas disputadas águas do Mar da China Meridional

O Exército de Libertação Popular (ELP) da China anunciou nesta sexta-feira (12) que realizará até meados de julho uma série de manobras militares em parceria com a Rússia. Elas ocorrem nas águas e no espaço aéreo da cidade de Zhanjiang, província chinesa de Guangdong, uma região com saída para o disputado Mar da China Meridional.

“Isso aprofundará ainda mais a parceria estratégica abrangente de coordenação entre China e Rússia na nova era”, afirmou o coronel Zhang Xiaogang, porta-voz do Ministério da Defesa Nacional da China.

De acordo com a rede estatal chinesa CGTN, as manobras estão em andamento desde o início deste mês e se estenderão até “meados de julho”, conduzidas “de acordo com o plano de engajamento militar anual e o acordo bilateral China-Rússia.”

Zhang também afirmou que “os exercícios foram elaborados para demonstrar a determinação e as capacidades dos lados chinês e russo em abordar conjuntamente as ameaças à segurança marítima e preservar a paz e a estabilidade global e regional”, o que soa como um recado aos aliados ocidentais.

Navios de guerra da Marinha chinesa durante treinamento militar (Foto: eng.chinamil.com.cn)

Na quinta-feira (11), durante cúpula realizada em Washington, a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) publicou uma declaração assinada por seus 32 membros condenando a parceria entre Moscou e Beijing, tida como crucial para sustentar a máquina de guerra russa contra a Ucrânia.

De acordo com a aliança militar transatlântica, a “parceria estratégica cada vez mais profunda” entre chineses e russos e “suas tentativas de reforço mútuo para minar e remodelar a ordem internacional baseada em regras são motivo de profunda preocupação.”

No documento, a Otan destaca o fornecimento de itens de dupla utilização por empresas chinesas a Moscou, sem o qual entende que não seria possível ao governo russo sustentar o conflito na Ucrânia. Nesse sentido, afirma que a China “não pode permitir a maior guerra na Europa na história recente sem que isso tenha um impacto negativo em seus interesses e reputação.”

Números publicados em maio pelo o think tank Carnegie Endowment for International Peace ilustram a importância da parceria. Segundo o autor Nathaniel Sher, especialista nas relações EUA-China, Beijing exporta mensalmente mais de US$ 300 milhões em produtos de dupla utilização listados por EUA, União Europeia (UE), Japão e Reino Unido. Diz o texto que são itens de “alta prioridade” necessários para produzir armas, alimentando as tropas russas de forma decisiva.

“Mentalidade de Guerra Fria”

Em resposta, a Missão Chinesa na UE afirmou que as alegações da Otan estão “repletas de mentalidade de Guerra Fria e retórica beligerante.” Afirma que o documento divulgado pela aliança é “provocativo”, com “mentiras e difamações óbvias”, e que Beijing “não é a criadora da crise na Ucrânia”. Não usa, porém, a palavra “guerra”, seguindo assim a cartilha do Kremlin, que oficialmente classifica o conflito como uma “operação militar especial”.

“Nunca fornecemos armas letais a nenhuma das partes do conflito e exercemos um controle rigoroso de exportação de bens de uso duplo, incluindo drones civis”, diz o texto da diplomacia chinesa, que contesta as ameaças de sanções ocidentais. “Os fluxos comerciais normais entre a China e a Rússia não têm como alvo terceiros, nem devem estar sujeitos a interrupções ou coerções.”

Paralelamente, o comunicado chinês acusa a Otan de “perturbar a paz e a estabilidade” na região da Ásia-Pacífico, fugindo da sua missão central, que é a “defesa regional no Atlântico Norte.” Faz ainda uma referência clara aos EUA ao dizer que aliança tornou-se “uma ferramenta usada por certa potência para manter a hegemonia.”

E finaliza: “Pedimos à Otan que corrija suas percepções errôneas sobre a China e abandone a mentalidade da Guerra Fria e a abordagem de soma zero. A Otan deve parar de exagerar a chamada ameaça da China e provocar confronto e rivalidade e fazer mais para contribuir para a paz e estabilidade mundiais.”

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