Militares se recusaram a reprimir protestos em Bangladesh, revelam autoridades

Abandono das Forças Armadas foi decisivo para a queda da primeira-ministra Sheikh Hasina, que renunciou e fugiu do país

A ex-primeira-ministra de Bangladesh Sheikh Hasina optou por renunciar ao cargo e fugir do país ao notar que havia sido abandonada pelas Forças Armadas. Fontes ouvidas pela agência Reuters contaram que os militares se recusaram a reprimir com armas de fogo os protestos populares que haviam tomado as ruas do país, selando assim o destino da governante.

Hasina vinha desde o início de julho tentando coibir manifestações contra seu governo organizadas por estudantes. No entanto, após um domingo (4) de distúrbios intensos que deixaram quase cem mortos nas primeiras horas, ela decidiu fugir rumo a Nova Délhi. De acordo com o canal de notícias India Today, ela estava a bordo de um avião da Força Aérea de Bangladesh que aterrissou na base em Ghaziabad.

Protesto contra a violência em Bangladesh (Foto: Faisal Akram/Flickr)

Um oficial indiano ouvido pela reportagem, que pediu para ter a identidade preservada, afirmou que o general Waker-Uz-Zaman relatou à então primeira-ministra que as Forças Armadas bengalesas não realizaram os bloqueios que ela havia solicitado após impor um toque de recolher em todo o país. Deixou claro, então, que os militares não mais apoiavam o governo dela.

A decisão havia sido tomada em uma reunião envolvendo generais, que assim decretaram o fim de um governo que durou mais de 15 anos e teve o autoritarismo como marca. Sem dar detalhes sobre quais decisões foram tomadas na reunião, o porta-voz do Exército, tenente-coronel Sami Ud Dowla Chowdhury, apenas confirmou que o encontro de fato ocorreu na noite de domingo.

Àquela altura, os protestos haviam ganhado corpo, com relatos de mais de 240 mortos, o que tornou a situação de Hasina insustentável. “Havia muita inquietação dentro das tropas”, disse o brigadeiro-general da reserva M. Sakhawat Hossain. “Isso é o que provavelmente pôs pressão sobre o chefe do Estado-Maior do Exército, porque as tropas estão fora e estão vendo o que está acontecendo.”

O toque de recolher se estendeu até a manhã de segunda-feira (5), e àquela altura a primeira-ministra já estava escondida em sua residência oficial, conhecida como Palácio do Povo, na capital Daca. Os líderes dos protestos, então, convocaram a população para ir às ruas tirá-la do poder e foram atendidos, com milhares de pessoas desrespeitando a ordem para permanecer em casa.

Hasina, então, usou um avião militar para fugir do país rumo à Índia, onde recebeu abrigo. Porém, a estada dela no país vizinho tende a ser curta, com o governo indiano temendo que uma permanência longa impacte nas relações diplomáticas do país com o futuro governo bengalês.

Por ora, o país será governado por um governo interino que, conforme relatou a rede BBC, será liderado por Muhammad Yunus, ganhador do Prêmio Nobel e antigo rival político da ex-primeira-ministra. Ele era a escolha dos manifestantes para comandar o país no lugar de Hasina. Ele é alvo de uma ação judicial que julga ter motivação política e atualmente está em liberdade após ter pagado fiança.

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