A diplomacia na Oceania atravessa uma fase de reconfiguração, com antigos aliados do Ocidente sinalizando uma mudança de rumo em direção à China. O recente impasse diplomático entre Nova Zelândia e Kiribati, somado ao avanço das relações entre as Ilhas Cook e Beijing, destaca o crescente protagonismo chinês no Pacífico. As informações são da rede CNN.
O governo da Nova Zelândia anunciou, de forma inesperada, a revisão de um pacote de ajuda a Kiribati, após o cancelamento de uma reunião com o presidente Taneti Maamau. O apoio financeiro, que inclui investimentos em saúde, educação e resiliência climática, é vital para a pequena nação, onde a ajuda externa representa 18% da renda nacional.

O caso das Ilhas Cook está mais avançado, e o país confirmou uma visita de Estado à China para negociar um acordo de parceria estratégica. O movimento reforça a tendência de aproximação com Beijing, contrariando as expectativas de consulta prévia à Nova Zelândia, com quem mantêm uma associação livre.
Analistas apontam que a dificuldade de Nova Zelândia e Austrália em manter o diálogo com Kiribati contrasta com a facilidade da China em estabelecer laços diplomáticos e econômicos. Em 2019, o governo de Maamau já havia rompido laços com Taiwan em favor de Beijing, consolidando uma orientação mais próxima da China.
A estratégia chinesa na região envolve acordos que vão além da cooperação econômica, incluindo parcerias em segurança e infraestrutura. Embora Beijing não ofereça volumes extraordinários de assistência financeira, sua presença consistente e a assinatura de múltiplos acordos com Kiribati em 2022 indicam um avanço significativo.
“A Nova Zelândia tem lutado para obter acesso ao governo de Kiribati, inclusive nas principais áreas em que a Nova Zelândia está apoiando saúde, clima e educação, por exemplo”, disse Anna Powles, professora associada do Centro de Estudos de Defesa e Segurança da Universidade Massey, na Nova Zelândia.
Preocupação em Washington
A mudança de postura desses territórios reflete o desafio das potências ocidentais em manter sua influência no Pacífico, especialmente diante das estratégias chinesas de diplomacia ativa e investimentos direcionados. O risco é o de que o isolamento de aliados tradicionais possa fortalecer ainda mais os laços com Beijing, algo que coloca em alerta também Washington.
“Há uma sensação de preocupação de que os EUA não foram capazes de fazer tantos avanços na região quanto muitos parceiros no Pacífico esperavam”, disse Powles.
O distanciamento do presidente Donald Trump de questões climáticas não ajuda a causa. Segundo o primeiro-ministro da Papua Nova Guiné, James Marape, a decisão dos EUA de deixar o Acordo de Paris foi “totalmente irresponsável” e tende a afastar ainda mais o Ocidente das nações da região.
“Bons líderes globais também são estadistas mundiais responsáveis. Eles assumem a responsabilidade não apenas por seus próprios países, mas também pelo planeta”, disse Marape.