Na Tailândia, empresa de monarca atrasa fabricação de vacinas à Covid-19

Até lançar o plano nacional de vacinação, a Tailândia havia vacinado apenas 2% da população - menos que Laos e Camboja

A empresa Siam Bioscience, de propriedade do rei Maha Vajiralongkorn, está atrasando a fabricação de vacinas contra a Covid-19 na Tailândia. Conforme o britânico “Financial Times”, a companhia deve produzir doses da AstraZeneca, mas ainda não destinou os milhões de imunizantes ao uso doméstico e também a Filipinas, Taiwan e Malásia.

Até o lançamento do plano nacional de vacinação contra Covid-19, na segunda (7), a Tailândia havia vacinado apenas 2% da população – uma parcela menor que seus vizinhos mais pobres, como Camboja e Laos.

Para cumprir a meta de imunizar 70% dos 70 milhões de tailandeses até o final do ano, como prometeu o ministro da Saúde Anutin Charnvirakul, o país concentrou a produção de doses na Siam Bioscience.

Na Tailândia, empresa de monarca atrasa fabricação de vacinas à Covid-19
Agente de saúde atesta temperatura de cidadã em Bangkok, Tailândia, em abril de 2020 (Foto: UN Women/Pathumporn Thongking)

A empresa que, até então, nunca havia fabricado vacinas e era desconhecida do público, planeja produzir até 200 milhões de doses por ano e distribuí-las a todo o leste asiático.

Na terça-feira, o primeiro-ministro Prayuth Chan-ocha se desculpou pelos atrasos no lançamento. Segundo ele, o governo planeja aumentar os suprimentos com 25 milhões de doses adicionais da Johnson & Johnson e Pfizer. Outro carregamento deve vir da China, via Sinovac.

Ainda assim, a gestão das vacinas na Tailândia – classificada como “caótica” pela mídia local – deve interferir nas complexas relações deixadas pela pandemia no país asiático. A onda de protestos que questionaram a monarquia durante 2020 trouxeram críticas sem precedentes ao rei Maha e ao governo de Prayuth.

Desafio à monarquia

Lideradas por jovens e estudantes, as manifestações ganharam as ruas e enfrentaram a lei de lesa-majestade, que pune quem ousar falar mal da família real com até 15 anos de prisão. O dispositivo inclui, agora, a farmacêutica Siam Bioscience.

O líder da oposição, Thanathorn Juangroongruangkit, foi acusado em janeiro de duvidar da escolha da empresa para a fabricação das doses. Questionada, a farmacêutica não respondeu aos pedidos de comentário.

A AstraZeneca, por sua vez, afirmou que o acordo de produção de vacinas obedece a rigorosos critérios globais. “A Siam Bioscience surgiu como a melhor opção devido às suas instalações modernas, especialização técnica e disponibilidade de grande substância medicamentosa a curto prazo”.

Neste impasse, os casos de Covid-19 pipocam em todo o país. A média de contaminações por semana chega a 20 mil. Quase 70% do total de 1,3 mil mortes registradas na Tailândia desde o início da pandemia ocorreram em maio.

Mesmo com a empresa própria, a Associação Tailandesa de Médicos Locais afirma que as doses já administradas foram importadas da Coreia do Sul e China.

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