OMS defende restrições a viajantes da China e cobra maior transparência de Beijing

Diretor-geral da agência de saúde da ONU diz que "ausência de informações abrangentes da China" justifica cautela com cidadãos chineses em trânsito

A OMS (Organização Mundial de Saúde) cobra da China mais transparência na divulgação de dados referentes ao atual surto de Covid-19 no país. A entidade alega que as estatísticas atualmente disponíveis são insuficientes para que os demais países tenham consciência da real situação no país, o que vem a justificar a decisão de muitos governos de restringir a entrada em seus territórios de cidadãos chineses. As informações são da revista Newsweek.

Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da agência de saúde da ONU (Organização das Nações Unidas), usou sua conta no Twitter para cobrar uma postura diferente da China e deu razão às demais nações. “Na ausência de informações abrangentes da China, é compreensível que países ao redor do mundo estejam agindo de maneiras que acreditam poder proteger suas populações”, disse ele.

Ao menos 14 países de todo o mundo já anunciaram medidas voltadas a controlar a entrada de cidadãos chineses ou outros turistas provenientes da China. Muitos, como EUA, França, Reino Unido e Japão, exigirão ou já estão exigindo testes negativos de Covid. Já o Marrocos vai proibir totalmente, a partir desta terça-feira (3), a entrada de todos os viajantes que vierem do território chinês.

Wang Wenbin, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, chamou as restrições de viagens de “desnecessárias” e afirmou que o país tem sido “aberto e transparente” na abordagem do problema.

Números muitos baixos

Beijing passou ultimamente a oferecer dados limitados sobre a disseminação do coronavirus, adotando um critério incompleto de registro das mortes. Assim, as estatísticas oficiais do governo não dão a real noção do problema enfrentado pelo país atualmente.

Casos assintomáticos não são mais contabilizados, e apenas os óbitos causados por pneumonia ou insuficiência respiratória são considerados. Assim, ficam fora das estatísticas oficiais as mortes de pessoas com doenças pré-existentes e infectadas pelo novo coronavírus.

A medida segue um padrão conservador adotado habitualmente na China e diferente do que fazem os demais países. Nos Estados Unidos, por exemplo, qualquer morte em que a Covid-19 tenha sido um fator determinante deve ser contabilizada como tendo sido causada pelo novo coronavírus.

Oficialmente, apenas 5.250 mortes foram registradas ao longo de toda a pandemia, iniciada em 2020. Para se ter ideia da discrepância em relação à provável situação real, a empresa britânica de análise de dados de saúde Airfinity disse na sexta-feira (30) que até 11 mil pessoas morrem diariamente no país devido à doença.

O diretor-geral Tedros Ghebreyesus: surto na China preocupa a OMS (Foto: UN Photo/Elma Okic)

“A OMS pediu novamente o compartilhamento regular de dados específicos e em tempo real sobre a situação epidemiológica, incluindo mais dados de sequenciamento genético, dados sobre o impacto da doença, incluindo hospitalizações, internações e mortes em unidades de terapia intensiva (UTI), e dados sobre vacinas entregues e status de vacinação, especialmente em pessoas vulneráveis ​​e com mais de 60 anos”, disse a agência de saúde da ONU, que fez uma reunião virtual com autoridades da China na sexta.

De acordo com Wang, as autoridades chinesas “continuarão monitorando de perto se o vírus sofrerá mutações, compartilharão informações sobre o Covid de maneira oportuna, aberta e transparente de acordo com a lei e trabalharão com a comunidade internacional para enfrentar o desafio da Covid”.

Fim da política Zero Covid

atual surto da doença começou no final de novembro e piorou a partir de 7 de dezembro, dia em que o governo suspendeu subitamente os radicais bloqueios antes impostos à população para controlar a propagação da doença, a política Zero Covid.

Entre as medidas de flexibilização, doentes assintomáticos ou com sintomas leves são autorizados a se isolar em casa, não mais em instalações do governo. Testes de PCR e o aplicativo de monitoramento de saúde deixaram de ser obrigatórios para acessar locais públicos. Já os bloqueios de rua, que antes atingiam distritos inteiros, agora são menores, concentrados em andares ou edifícios específicos.

Um dos problemas do afrouxamento das medidas é o fato de que os cidadãos ficaram trancados durante muito tempo, o que reduziu entre os chineses a imunidade natural encontrada em outros países. Aumenta a preocupação a baixa taxa de vacinação entre os idosos, sendo que apenas 40% das pessoas a partir dos 80 anos receberam a terceira dose da vacina.

O governo chinês também não aprovou o uso no país de nenhuma vacina produzida no exterior, limitando seus cidadãos à inoculação com os imunizantes da Sinovac e da Sinopharm. Para especialistas, porém, o nível de imunidade fornecida pelas vacinas da China é mais baixo que o das ocidentais, que usam a tecnologia de RNA mensageiro, mais moderna.

Um estudo publicado em dezembro pela revista de medicina Lancet em Singapura mostra que as vacinas chinesas, que usam a tecnologia do vírus inativado, mais antiga que a do RNA mensageiro, levam a uma probabilidade quase duas vezes maior de o indivíduo inoculado desenvolver Covid-19 grave.

“Continuamos preocupados com a evolução da situação e continuamos incentivando a China a rastrear o vírus da Covid-19 e vacinar as pessoas de maior risco. Continuamos a oferecer nosso suporte para atendimento clínico e proteção de seu sistema de saúde”, disse Tedros.

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