Presidente de Taiwan cita ‘desafios internos’ da China e minimiza risco de invasão

Beijing promete usar 'todas as medidas necessárias' pela reunificação, mas Tsai Ing-wen diz que a guerra 'não é uma opção'

Uma agressão a Taiwan não está nos planos da China, ao menos neste momento. Essa é a avaliação da presidente da ilha autogovernada, Tsai Ing-wen, segundo quem Beijing precisa lidar com “desafios internos” antes de pensar em uma invasão em larga escala. As informações são do jornal The News York Times.

“Penso que a liderança chinesa, na atual conjuntura, está sobrecarregada pelos seus desafios internos”, disse Tsai na quarta-feira (29) em entrevista ao veículo de mídia norte-americano. “A minha opinião é a de que talvez este não seja o momento para considerarem uma grande invasão a Taiwan.”

Ao justificar seu posicionamento, Tsai citou a crise econômica que atinge a China, bem como o que chamou de “desafios políticos”, sem se aprofundar na análise. Além disso, afirmou que a “comunidade internacional deixou claro que a guerra não é uma opção. E que a paz e a estabilidade servem aos interesses de todos.”

Questionado sobre a manifestação da líder taiwanesa, o Ministério da Defesa da China voltou a afirmar que a reunificação acontecerá, mais cedo ou mais tarde. E Beijing usará a força para tal, caso assim seja necessário. Mesmo que demore a ocorrer.

“O Exército de Libertação Popular (ELP) tomará todas as medidas necessárias para proteger firmemente a soberania e a integridade territorial da China”, disse o porta-voz da pasta, Wu Qian, em uma coletiva de imprensa m Beijing, cujo conteúdo foi reproduzido pela agência Reuters.

Tsai Ing-wen, presidente de Taiwan, novembro de 2023 (Foto: flickr.com/photos/presidentialoffice)

Embora uma agressão militar não esteja no horizonte, ao menos na visão da líder taiwanesa, ataques híbridos estão em curso. Nesse sentido, ela destacou como uma questão particularmente sensível a eleição presidencial da ilha, que ocorre em janeiro.

De acordo com a presidente, a atuação chinesa para tentar direcionar os votos na ilha vem sendo registrada desde 1996. No último pleito regional, para eleger prefeitos e outros representantes em 2018, a campanha chinesa foi agressiva, mas não surtiu efeito.

A situação se repete hoje, mas Tsai diz que Taiwan consegue conter as ações chinesas de forma eficiente. “Acho que eles não estão sendo particularmente bem-sucedidos em seus esforços para tentar influenciar nossas eleições. Sobretudo porque isso é uma democracia”, disse a líder nacional, cujo Partido Democrático Progressista (DPP) é favorito a seguir no poder, conforme os resultados das pesquisas de opinião.

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.

Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

A crise ganhou contornos mais dramáticos após a então presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, visitar a ilha em 2022. Foi a primeira pessoa ocupante do cargo a viajar para Taiwan em 25 anos, atitude que mexeu com os brio de Beijing. Em resposta, o exército da China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno do território vizinho, com tiros reais e testes de mísseis.

O treinamento serviu como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.

Desde então, aumentou consideravelmente a expectativa global por uma invasão chinesa. Para alguns especialistas, caso do secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin, o ataque “não é iminente“. Entretanto, o secretário de Estado Antony Blinken afirmou em outubro “que Beijing está determinada a buscar a reunificação em um cronograma muito mais rápido”.

As declarações do chefe da diplomacia norte-americana vão ao encontro do que disse o presidente chinês Xi Jinping no recente 20º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC). “Continuaremos a lutar pela reunificação pacífica”, disse ele ao assegurar seu terceiro mandato à frente do país. “Mas nunca prometeremos renunciar ao uso da força. E nos reservamos a opção de tomar todas as medidas necessárias”.

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