Uma agressão a Taiwan não está nos planos da China, ao menos neste momento. Essa é a avaliação da presidente da ilha autogovernada, Tsai Ing-wen, segundo quem Beijing precisa lidar com “desafios internos” antes de pensar em uma invasão em larga escala. As informações são do jornal The News York Times.
“Penso que a liderança chinesa, na atual conjuntura, está sobrecarregada pelos seus desafios internos”, disse Tsai na quarta-feira (29) em entrevista ao veículo de mídia norte-americano. “A minha opinião é a de que talvez este não seja o momento para considerarem uma grande invasão a Taiwan.”
Ao justificar seu posicionamento, Tsai citou a crise econômica que atinge a China, bem como o que chamou de “desafios políticos”, sem se aprofundar na análise. Além disso, afirmou que a “comunidade internacional deixou claro que a guerra não é uma opção. E que a paz e a estabilidade servem aos interesses de todos.”
Questionado sobre a manifestação da líder taiwanesa, o Ministério da Defesa da China voltou a afirmar que a reunificação acontecerá, mais cedo ou mais tarde. E Beijing usará a força para tal, caso assim seja necessário. Mesmo que demore a ocorrer.
“O Exército de Libertação Popular (ELP) tomará todas as medidas necessárias para proteger firmemente a soberania e a integridade territorial da China”, disse o porta-voz da pasta, Wu Qian, em uma coletiva de imprensa m Beijing, cujo conteúdo foi reproduzido pela agência Reuters.

Embora uma agressão militar não esteja no horizonte, ao menos na visão da líder taiwanesa, ataques híbridos estão em curso. Nesse sentido, ela destacou como uma questão particularmente sensível a eleição presidencial da ilha, que ocorre em janeiro.
De acordo com a presidente, a atuação chinesa para tentar direcionar os votos na ilha vem sendo registrada desde 1996. No último pleito regional, para eleger prefeitos e outros representantes em 2018, a campanha chinesa foi agressiva, mas não surtiu efeito.
A situação se repete hoje, mas Tsai diz que Taiwan consegue conter as ações chinesas de forma eficiente. “Acho que eles não estão sendo particularmente bem-sucedidos em seus esforços para tentar influenciar nossas eleições. Sobretudo porque isso é uma democracia”, disse a líder nacional, cujo Partido Democrático Progressista (DPP) é favorito a seguir no poder, conforme os resultados das pesquisas de opinião.
Por que isso importa?
Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.
Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.
Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.
A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.
A crise ganhou contornos mais dramáticos após a então presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, visitar a ilha em 2022. Foi a primeira pessoa ocupante do cargo a viajar para Taiwan em 25 anos, atitude que mexeu com os brio de Beijing. Em resposta, o exército da China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno do território vizinho, com tiros reais e testes de mísseis.
O treinamento serviu como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.
Desde então, aumentou consideravelmente a expectativa global por uma invasão chinesa. Para alguns especialistas, caso do secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin, o ataque “não é iminente“. Entretanto, o secretário de Estado Antony Blinken afirmou em outubro “que Beijing está determinada a buscar a reunificação em um cronograma muito mais rápido”.
As declarações do chefe da diplomacia norte-americana vão ao encontro do que disse o presidente chinês Xi Jinping no recente 20º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC). “Continuaremos a lutar pela reunificação pacífica”, disse ele ao assegurar seu terceiro mandato à frente do país. “Mas nunca prometeremos renunciar ao uso da força. E nos reservamos a opção de tomar todas as medidas necessárias”.