Rahul Gandhi alerta para ameaça da China e critica ‘falha na política externa’ da Índia

Maior adversário político do premiê Narendra Modi diz que principal dever do governo é manter Beijing e Islamabad distantes

O parlamentar indiano oposicionista Rahul Gandhi, adversário do primeiro-ministro Narendra Modi, criticou a política externa do mandatário da Índia, na quarta-feira (2). Ele definiu como “enormes erros” questões que resultaram na aproximação entre China e Paquistão, de acordo com o jornal local Times of India.

Falando no Lok Sabha, o Parlamento da Índia, o político abordou o que teriam sido equívocos da Aliança Nacional Democrática (NDA), uma coalizão partidária liderada por Modi, que resultou na aproximação entre paquistaneses e chineses. Segundo ele, o resultado disso é uma Índia cercada e isolada em sua vizinhança.

“O maior objetivo estratégico da política externa da Índia é manter o Paquistão e a China separados, e você os aproximou. Não subestime a força, o poder que está diante de nós. Este é o maior crime contra o povo da Índia. A China tem uma visão clara”, disse o parlamentar.

Rahul Gandhi, membro do Partido do Congresso Nacional Indiano (Foto: WikiCommons)

Gandhi também fez um alerta sobre projetos beligerantes de Beijing na região e disse que “vai agir”. “Esta é uma ameaça muito séria para a nação indiana. Veja o tipo de armas que a China está comprando. Precisamos nos defender”, ponderou.

O rival do premiê também disse que o governo cometeu erros estratégicos na região de Jammu e Caxemira, estado dividido em dois territórios administrativos separados, alvo de disputas com o Paquistão. Ele instou Modi a abrir diálogo com os membros da oposição. “É importante como nação que você nos ouça. Você pode não pensar que temos compreensão, mas temos. Ouça-nos e use-nos”, disse ele.

O jornal Hindustan Times destacou o momento em que Rahul citou como exemplo de postura em política externa a bisavó, a ex-primeira-ministra Indira Gandhi, que ocupou o cargo entre as décadas de 1960 e 1970.

“De muitas maneiras, qualquer risco de envolvimento chinês foi neutralizado pelo contato de Indira Gandhi em Moscou. Sempre houve abordagens feitas para garantir que, quando o Paquistão ficasse beligerante, a China não tiraria vantagem, e quando a China nos atacasse, o Paquistão não se tornasse ativo contra nós”, acrescentou.

O líder do Congresso, Shashi Tharoor, compactuou com as preocupações levadas ao Parlamento por Rahul. “Não estamos sugerindo que enfrentaremos uma guerra amanhã. Estamos dizendo que o país foi enfraquecido tanto em unidade e força doméstica quanto em sua segurança nacional externa”, observou Tharoor.

O ministro das Relações Exteriores, Subrahmanyam Jaishankar, defendeu o governo das acusações de Rahul, contextualizando a situação a partir de longa história de cooperação entre o Paquistão e a China, particularmente no setor de desenvolvimento nuclear.

Por que isso importa?

De maioria muçulmana, a Caxemira é disputada por Índia e Paquistão desde que Nova Délhi e Islamabad conquistaram a independência do Reino Unido e se separaram em dois países, em 1947. Desde então, as nações já travaram duas guerras pelo território.

Em 5 de agosto de 2019, o governo da Índia, de orientação nacionalista hindu, retirou os poderes semi-autônomos do Estado, tomando-o sob sua responsabilidade. O primeiro-ministro Naremdra Modi também anulou os direitos especiais hereditários que os nativos tinham sobre a propriedade e o emprego de terra na região.

Aprovadas sem orientação democrática, as leis são motivo de ressentimento do povo da Caxemira. Muitos pedem pela independência do território da Índia ou unificação com o vizinho Paquistão.

A Índia tem mais de 500 mil soldados na Caxemira, uma das zonas mais militarizadas do mundo, desde que uma rebelião eclodiu por lá em 1989. O país acusa o Paquistão de apoiar rebeldes armados que lutam pela independência da Caxemira. Islamabad nega as acusações.

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