Refugiados rohingya enfrentam fome e perda de esperança após cortes na ajuda humanitária

Segundo a ONU, impactos são vistos nos campos de Cox's Bazar após segunda diminuição em vales alimentares em três meses

Conteúdo adaptado de material publicado originalmente pela ONU News

Em um centro de distribuição de alimentos de Cox’s Bazar, em Bangladesh, onde vivem cerca de um milhão de refugiados rohingya, houve reduções nos vales-alimentação. Desde março o valor tem caído, e no mês passado o vale representava o equivalente a US$ 0,27 (R$ 1,29) por dia.

Segundo o Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Ancur), a redução do auxílio agravou a vulnerabilidade dos refugiados, que já vivem em espaços superlotados e perigosos no sul de Bangladesh. A maioria deles fugiu da violência em Mianmar há quase seis anos.

A assistência alimentar fornecida pelo Programa Mundial de Alimentos (PMA) tem sido a única fonte confiável para atender a necessidades básicas de alimentos e nutrição. Porém, com a redução dos financiamentos, essa ajuda está sob pressão severa.

Enfrentando a falta de financiamento, o PMA teve que fazer escolhas difíceis para manter a assistência alimentar até o final do ano, resultando em cortes nos vouchers alimentares para os residentes do acampamento.

O Acnur avalia que a redução nas porções de alimentos tem impactado negativamente as famílias rohingyas, que já vivem em situação precária nos campos. 

ONU pede compaixão por refugiados do grupo rohingya
Família rohingya de Mianmar refugiada em Cox’s Baz, Bangladesh (Foto: UN Photo)
Assistência aos refugiados rohingya

Segundo o Escritório da ONU, a falta de alimentos tem levado a um aumento nos casos de desnutrição, especialmente entre mulheres e crianças, que representam mais de 75% da população refugiada e enfrentam maiores riscos de abuso, exploração e violência de gênero.

Além disso, a falta de oportunidades de emprego e de renda legal tem levado a medidas desesperadas para sobreviver, como casamento infantil, trabalho infantil e jornadas perigosas em embarcações.

Para o Acnur, é crucial que a comunidade internacional forneça mais apoio para garantir assistência vital aos refugiados rohingyas e invista nas comunidades locais. 

A ONU alerta que não é apenas o PMA que está sentindo o impacto do declínio dos níveis de financiamento de doadores internacionais. O plano de resposta humanitária para 2023 para os rohingya foi financiado em apenas 25%. 

Oportunidades de subsistência

A longo prazo, o representante do Acnur em Bangladesh, Johannes van der Klaauw, disse que a única maneira de evitar que a situação humanitária nos campos se deteriore ainda mais é investindo em educação, treinamento de habilidades e oportunidades de subsistência.

Para ele, isso permitiria que os refugiados se tornassem autossuficientes e satisfizessem parcialmente suas necessidades básicas por seus próprios meios. 

Além disso, ele avalia que isso poderia contribuir na preparação para reconstruir suas vidas quando puderem retornar voluntariamente e com segurança a Mianmar.

Sem essas oportunidades, refugiados rohingya veem os últimos cortes na alimentação como um sinal não apenas de mais fome, mas de menos esperança. 

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