O Instituto de Pesquisa de Opinião Pública de Hong Kong (HKPORI), reconhecido por monitorar a percepção da população sobre questões políticas sensíveis, como liberdade de imprensa e popularidade de líderes políticos, anunciou a suspensão de suas atividades após uma série de ações policiais que incluíram a busca em suas instalações e o interrogatório de familiares de um ex-diretor. As informações são da Radio Free Asia.
A decisão, divulgada em comunicado oficial, reflete o ambiente de repressão crescente na cidade desde a imposição de leis de segurança nacional por Beijing. A organização afirmou que interromperá indefinidamente todas as pesquisas autofinanciadas, incluindo sondagens regulares conduzidas desde 1992. Além disso, estuda uma possível reformulação ou até mesmo o encerramento definitivo de suas operações.
“Acreditamos na pesquisa científica, mas, diante das atuais circunstâncias, somos forçados a suspender nosso trabalho”, declarou o HKPORI.

Perseguição a pesquisadores
O anúncio ocorre semanas depois de a polícia de Hong Kong deter e interrogar a esposa e o filho do pesquisador e comentarista político Chung Kim-wah, ex-membro do instituto. Chung, que atualmente vive no Reino Unido, é acusado de “incitação à secessão” ao lado de outros ativistas, por supostamente defender a independência de Hong Kong nas redes sociais e pedir sanções internacionais contra Beijing.
Desde dezembro, ele integra a lista de 19 ativistas estrangeiros procurados pelo governo da cidade, com uma recompensa de HK$ 1 milhão (US$ 128,4 mil) oferecida por sua captura.
Intimidação
Para especialistas, o fechamento do HKPORI representa um golpe significativo na transparência política e na liberdade acadêmica de Hong Kong. O acadêmico político Benson Wong, que hoje vive no Reino Unido, classificou a medida como uma “perda irreparável” para a sociedade.
“Esse instituto desempenhava um papel crucial ao fornecer dados objetivos sobre o estado político, econômico e social da cidade. Seu desaparecimento é um grande retrocesso”, afirmou Wong.
O comentarista Sang Pu alertou que o fechamento do instituto pode ter um efeito intimidador generalizado. “Pesquisas de opinião são um indicador essencial da sociedade. Se forem eliminadas, os limites do que pode ou não ser discutido ficarão ainda mais nebulosos”, disse.
Restrição de liberdades
Desde a imposição das leis de segurança nacional, centenas de milhares de pessoas deixaram Hong Kong, muitas delas por meio do visto British National Overseas (BNO), que permite residência no Reino Unido. Outros buscaram refúgio nos Estados Unidos, Canadá, Austrália e Alemanha.
A cidade, que antes era considerada um dos principais centros de liberdade na Ásia, enfrenta agora um cenário de repressão crescente, com declínio nos índices de direitos humanos e maior controle estatal sobre a mídia e a educação.
Enquanto o HKPORI avalia seu futuro, seu presidente e CEO, Robert Chung, afirmou que interessados podem assumir o instituto. Ele também revelou que pretende continuar promovendo o desenvolvimento profissional na área de pesquisas até o fim de seu mandato, em 2026.
“A equipe de pesquisa ainda espera poder retomar seus trabalhos no futuro”, concluiu o comunicado do instituto.