A disputa territorial entre China e Filipinas, que vinha se concentrando em uma base militar improvisada montada por Manila no Mar da China Meridional, ganhou recentemente um novo foco de atrito. Trata-se de Sabina Shoal, um atol desabitado repleto de recifes, onde embarcações dos dois países já se cruzaram e protagonizaram os mais recentes episódios de tensão. As informações são da rede CNN.
Filipinas e China reivindicam grandes extensões do Mar da China Meridional, que é uma das regiões mais disputadas do mundo. Vietnã, Malásia, Brunei e Taiwan também estão inseridos na disputa pelos ricos recursos naturais da hidrovia, pela qual passam anualmente cerca de US$ 3 trilhões em comércio marítimo.
A China é acusada de avançar sobre a jurisdição territorial dos demais países, construindo ilhas artificiais e plataformas de vigilância, além de incentivar a saída de navios pesqueiros para além de seu território marítimo. O objetivo dessa política é aumentar de forma gradativa a soberania na área.
No caso específico da relação entre Beijing e Manila, a disputa inicial estava relacionada ao atol de Scarborough Shoal, mas esse não foi o principal palco de desentendimentos. A situação tornou-se particularmente tensa um pouco mais ao sul, em Second Thomas Shoal, onde as Filipinas usam um navio encalhado, o Sierra Madre, como base militar improvisada para fazer valer suas reivindicações.
Embora o atol esteja dentro da Zona Econômica Exclusiva (ZEE) filipina, a China o reivindica como parte do seu território e exige que o navio encalhado seja removido. Como os pedidos não são atendidos, passou a assediar as missões que levam suprimentos aos militares estacionados ali, a ponto de os EUA terem oferecido escolta armada ao aliado.
Nos últimos dias, a atuação chinesa em Sabina Shoal tem sido semelhante, com navios de sua Marinha e Guarda Costeira assediando embarcações das Filipinas, que por sua vez acusam Beijing de realizar ações ilegais para assumir o controle da área.
“Todas as indicações parecem apontar para o fato de que este é um terceiro ponto crítico emergente” disse Collin Koh, pesquisador da Escola de Estudos Internacionais S. Rajaratnam, em Singapura. “Manila está tentando evitar o que eles chamam de uma repetição de Scarborough Shoal”, acrescentou, citando o atol que gerou o primeiro conflito e hoje é ocupado por militares chineses.
Com o placar empatado, os dois países agora travam uma disputa pelo controle de Sabina Shoal, um atol ainda mais próximo da costa filipina que as outras duas porções de terra disputadas. Por enquanto, Manila leva vantagem, com um navio de sua Guarda Costeira, o BRP Teresa Magbanua, ancorado ali para demarcar território.
Beijing, por sua vez, adota a estratégia habitual e age para bloquear as missões de reabastecimento. “A China se refere a isso como um ‘quase encalhe’, então eles estão basicamente tratando isso como se fosse o Sierra Madre novamente, embora não esteja encalhado, mas ancorado”, disse Ray Powell, diretor do projeto SeaLight de transparência marítima da Universidade de Stanford.
Embora as Filipinas tenham conseguido se estabelecer em duas das três áreas disputadas, têm poucas alternativas para resistir a uma eventual agressão chinesa. Apostam tudo no Tratado de Defesa Mútua de 1951 com Washington, que promete partir em defesa do aliado se este for atacado.
Beijing, entretanto, não se deixa afetar. “A China está deliberadamente escalando a situação, com uma provável intenção de testar até que ponto Washington apoiaria Manila”, avaliou Koh. “Os chineses sabem que Manila tem opções muito limitadas se não puder depender da ajuda dos EUA.”